Beleza em extinção

Poucas bobagens são mais patentes que a discussão sobre o aquecimento do planeta.

Progressistas lamentam o lento, inexorável fim da Terra, conservadores batem o pé (ou será a pata?) que é balela. Esquerdistas dizem que a destruição resulta do capitalismo selvagem, direitistas clamam que tudo não passa de mais uma batalha ideológica.

Debate inócuo, por supuesto.

O armagedão virá cedo ou bidu, para mim não importa quando. O que me interessa é a destruição possível e passível de ser vista e sentida no curso da minha vida, overdose de testemunho para este espécime deveras fraco, indigno da raça.

Dei um google nas espécies recém extintas e em vias de extinção, em anos, sei lá, décadas, séculos, sobrarão apenas cachorros e gatos e olhe lá. Não tem pra ninguém, de grandes mamíferos, baleia azul, rinocerontes, jacarés, elefantes, gorilas, tigres, leões, a pequenos, macacos, lêmures, lobos, raposas, gazelas, morcegos, e cobras, lagartos e corujas, albatrozes, falcões,e tudo que é ave e tudo que é molusco e tudo que é peixe e tudo que é anfíbio, e tudo que é inseto e tudo que é réptil, e tudo que é crustáceo, o extermínio é geral, democrático, irrecorrível. 

E como imaginar um mundo sem a grande, a linda, a fabulosa Floresta Amazônica? E mares e oceanos sem corais nem floras, movendo ao redor do globo uma borra espumosa, melequenta, fedida de que nem sequer o sal será capaz de se livrar?

Que a espécie humana talvez seja a última a soçobrar mas soçobrará inelutavelmente, não precisa grande inteligência para deduzir.

Que imensa merda que a temperatura vai subindo ou descendo. "Pensadores" como Pondé e seus guias práticos para pensar o mundo talvez tenham a lamentar apenas o fim dos zoos pelo mundo. Até gosto do Pondé. O único probleminha é que, para um filósofo que se quer esperto, ele limita o patos humano ao simples reconhecimento da animalidade que trazemos aqui no fundo. Quem dera.

Vou correndo regar minha samambaia.


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