Seco feito carne de sol

Passei o dia todinho escrevendo sem escrever (nada que preste). E quanto mais escrevo menos sentido minhas palavras fazem. Fui, voltei, levei e trouxe. Tive ideias, persegui ideias, escrevi ideias até ultrapassar todos os limites da sensatez, desisti, tentei novamente com as mesmas, tentei com outras. Digitei palavras, pontos, vírgulas, travessões e aspas, períodos e frases e parágrafos. Apaguei uma a uma, um a um, deletei tudo, reescrevi, deletei de novo. Fui ler Neruda (quando estou mal leio Neruda porque Neruda me irrita), fui andar, fui beber, reescrevi, apaguei, fui beber, fui andar, fui ler Kerouac (tudo ficou pior). Escrevo, escrevo, escrevo, leio e não compreendo nada do que escrevo, carreiras de letras formando vocábulos sem significado numa língua estranha num alfabeto que desconheço. Estou absolutamente ágrafo. Beethoven escreveu a Nona praticamente surdo, depois os quartetos para cordas totalmente surdo. Certos críticos chamam os Quartetos de "visionários".

Nenhum comentário:

Postar um comentário