Metafísicos adultérios

A poesia mais elevada é aquela que atinge a profundeza do antipoético.

Escrever é botar uma escada no meio da sala, subir uns degraus, desenroscar a lâmpada, descer, sentar-se no sofá e ficar no escuro até que a luz própria se acenda. Pode levar minutos ou anos. O importante é não ter medo do escuro nem da espera nem do desespero que em geral a acompanha. Escrever não é fabricar uma maquininha de entretenimento para alimentar a imaginação morta e corrupta dos que se condenam a crer em mentiras sedutoras.

Hoje de manhãzinha enquanto um Nescafé eu fazia minha cabeça fez uma poesia e o café saiu fraquinho.

De que é que os escritores tanto escrevem, afinal de contas? Muitos, da vida. Alguns, da morte. Outros, de nada -- o mais fascinante de todos os assuntos.

Me desculpem os estruturalistas mas você pode até entender a poesia -- o difícil é entender o poeta. Da poesia, você sabe o que quer; do poeta, nem ele.

Há dois tipos de pessoas neste mundo: as que perdem guarda-chuvas e as que acham. E que continuam assim divididas mesmo quando não chove.

Ivaneide esguichou na pia do banheiro todo o conteúdo do colírio de dona Paula, encheu de ácido sulfúrico, botou de volta no lugar e pediu a conta.

Ao meu companheiro imaginário Cortázar
Nos mudamos. Em uma semana ela foi embora. Depois de um ano saí eu. E deixamos nossa casa vazia ocupada.

Tentando me enganar? Sou viciado em enganos. 
Nos enganamos imaginando que somos capazes de evitar enganos. A única forma de se livrar de enganos é cultivá-los como se cultiva uma floreira de ervas daninhas.

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