Calçadas de Araraquara
As calçadas de Araraquara se inclinavam
numa suavidade a que eu não tinha direito em nenhuma outra esfera
As calçadas de Araraquara eram declives suaves
na ida
e não eram nada quando na volta eu não tinha aonde ir
As calçadas de Araraquara guardavam meus olhares que nas pedras róseas
buscavam segredos inexequíveis
A cidade e a multidão subindo e descendo suas ruas e
suas casas e as pessoas que estavam dentro delas
só esperavam minha presença para existir
Eu não sabia então, eu sei agora
Desfilando meus assombros pela rua três
Em frente à sorveteria do japonês
Onde aprendi a tomar um copo d'água sem gelo depois do sorvete na taça
Luxo imerecido para um solitário atávico
O trem parado na estação apitava
Enchendo de agonia o céu da rainha ferroviária
"Vou partir! Vou partir! Vou partir!"
Eu chegava muito cedo
eu sumia muito tarde
e o mundo era muito grande
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