Quero ser carrasco

Se abrisse vaga pra carrasco neste país, eu seria o primeiro da fila.

Depois de empregado, chegava pro meu chefe e dizia: "Chefe, não precisa me pagar salário. Guarda pra ajudar a Europa financiar seu déficit."

Se um dia abrisse uma vaguinha dessas, eu seria o carrasco-mor. 

Como todos sabem, funcionário público gosta é de moleza. Carrasco, eu seria diferente. Levantava às 4 da matina, pegava no batente às 4:30, suava a camisa até o anoitecer, só meia horinha pros requisitos fisiológicos.

Carrasco, eu teria uma quota. Executava uns 50 vagabundos por dia. Seria o funcionário público mais esforçado do mundo – uns dos poucos. Um dos únicos. Um dos raros.

Eu daria um verdugo bem criativo, podes crer. Inventava uma cacetada de métodos. Dependendo do caso, até deixava o freguês escolher a forma de partir para a outra vida.

Teria desde morte sumária (quem sabe um tirinho na nuca ou uma foiçada da garganta) até uns rituaizinhos mais sofistiquês, pra cabra tipo masô.

Porém, nem todos os condenados, todavia, receberiam a solução final, entretanto. Por exemplo, pra esses abjetos que recebem altos cargos públicos e se dedicam a meter as mãozonas na grana dos nossos impostos, pra esses caras a morte nunca teria fim. Ou então duraria uns dois anos. Eu inventava o método mais vagaroso de execução de todo este nosso xangrilá em vias de extinção sob nuvens de dióxido de carbono.

E todo político ladrão também receberia tratamento igual. Ou pior. Ainda não me decidi.

Até agora só me decidi que quero, preciso ser carrasco.

Os esquerdinhas gostam de debochar de arroubos deste tipo. Dizem que o defensores da pena de morte só a defendem porque não são eles que puxam o gatilho, ligam a tomada, abrem o cadafalso, desferem a machadada.

Eu puxo! Eu ligo! Eu abro! Eu desfiro! Com o maior prazer. Eu boto a mão na massa! Boto a mão, o pé e o que tiver ao meu alcance. 

Na tevê o “ministro” se esbalda de rir. Está em seu habitat. Ri das acusações. Faz pilhéria. Tira uma da cara dos cidadãos que trabalham seis meses todo ano para sustentar a ele e a sua família de ladrões e a seus jagunços ladrões e a seus pares ladrões e a sua mãe ladrona. É um folgazão. O rei na barrigona de cerveja e banha de porco. Não se avexa em exibir o carão consternado para as câmaras. Quase às lágrimas, se diz injustiçado. Evoca a justiça divina. Acena, crispa os punhos, morde os beiços, forja todos os ésgares da vitimização esperados duma alta autoridade.

O Grande Safado não perde a chance de faturar em cima do evento. Sem dó nem piedade, abusa dos chavões, se mostra traumatizado, choraminga, zune, zumbe, urra, baba. De lambuja, aproveita o teatro macabro para encher a própria bola. Como tantos outros canalhas que vieram antes e que ainda virão.

O plenário está em polvorosa. Deputados e senadores lançam os punhos fechados para o ar, ganindo suas toscas bravatas, arregaçando as mangas de seus ternos Gucci de três mil dólares e sapatos Prada de dois. O grande mediador que preside a sessão resolve pedir calma. Destoando da comoção histérica que se alastra pela “Casa”, chama os outros à razão. Não podemos nos precipitar.

Sim, do sr. "presidente" do Grande Ato de Desagravo se espera que demonstre equilíbrio e sensatez. É perfeitamente compreensível. No berção impávido tudo é compreensível. Não vamos botar o Grande Safado em cana só por causa do ocorrido. Afinal, é apenas mais um saque desarmado ao Tesouro. Que assistiremos no jornacional enquanto comemos pizza de muzzarela.


Mas, porém, contudo, senhores congressistas, se um dia quiserem parar de falar e de fazer merda e resolverem instituir o Ministério das Execuções Sumárias, podem me chamar.


Serei o Carrascão-chefe, a seu dispor. A seu inteiro dispor.

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