Esta é de graça

Ainda hei de aprender a morrer. 
Será um aprendizado sem o (v)exame final com que a professora Lurdinha de Matemática se deliciava em me torturar.
Quando me considerar sofrivelmente apto para pelo menos uma nota cinco, direi, agora já sei e estou pronto.
E então vocês primeiríssimos da classe irão disputar minha atenção no recreio, suplicando para que eu deixe escapar pelo menos algumas chispas do meu abissal saber.
Mas, vejam, então estarei interessado apenas na minha glória suprema e a minha glória suprema será a certeza de que os patéticos interesses dos primeiríssimos da classe e do mundo não me interessam isto que seja.
De sobremesa acho que balbuciarei que aprendi a morrer não como um faquir ou um brâmane que, mal nascem, já encetam o treinamento religioso para a empreitada.
Não, senhoras e senhores.
Terei aprendido a morrer independentemente de fundamentalistas suicidas e professores fanáticos.
À revelia dos presunçosos que se atreveram a me ensinar o caminho da boa morte só porque nunca foram felizes nem experimentaram o prazer dum balla 12 às 8 da matina aliado ao perfume séptico duma buceta ao natural depois de toda uma noite de atividade.
E em minha suprema glória de bípede resignado com a impossibilidade de elevar a cabeça às nuvens e conformado com a tranquilidade de ter um chão sob os pés, poderei dizer a mim mesmo, já completamente esquecido de primeiríssimos e ultimíssimos, que eu sempre soube tudo que desde o início devia saber.



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