A piacere
De repente o ex-poeta parou de observar o céu, a rua, as pessoas e foi embora. Tinha mais que fazer.
Espere, ainda há mais.
Ex-poetas são exeqüíveis?
São espécie em extinção?
Espécie cuja existência é apenas cogitada ainda hoje?
E poetas, sejam ex ou não, têm o que fazer?
Eu, ex-poeta fosse, passaria o resto da vida me fazendo a única pergunta que me restaria fazer.
Pode ir, não há mais nada
Longe de mim veleidades poéticas
Queria, mais que tudo, ser nada
Uma nota seca de violão
que vive uma fração de segundo
nos dedos canhestros dum aspirante a artista
Estou na praia, porém, e vem o mar
enxaguar meus pés
desacostumados dos elementos
tendo por mais longínquo horizonte
o umbral da porta e/ou
a linha da mesa por onde desaba
a toalha
Sei que, se olhasse para o alto, não
veria as gaivotas
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