Não se faça de desentendido

Basso ostinato
Paixão pragmática. Contradição em termos?
Talvez.
Os interesses próprios movem o mundo, claro. Ninguém tá aqui pra perder grana. Fora os loucos varridos.
Na paixão esperta, primeiro vem o status e a posição social e a estabilidade financeira e o bem-estar físico.
Yes, a parafernália de "valores" professados pela classe média escravizada sob a ideologia do enriquecimento acima de tudo.
E essa "ética" forjada nos moldes de aço do trabalho, moldes onde se criam instrumentos úteis como religião faz-de-conta (todos temos necessidades espirituais, bien sûr) e a dupla papai-mamãe para que as ameaças da promiscuidade não venham a ameaçar a família constituída. Ora, são as instituições. Afinal, sem família não há trabalho e vice-versa.
A ideologia trabalho-e-família é foda, todos sabemos. O distinto com o tempo se estressa de tanto ralar. Vez ou outra frustra-se, mesmo quando aprecia orgulhoso o carrão do ano na garagem ou leva a trempa à idílica disneilândia. E a distinta se estressa de tanto cuidar da casa, dos filhotes e do resto. Por isso, papai, mamãe e filhotes precisam duma compensação. Que em geral se resume em consumir. Ou melhor: devorar bens. Porra, ninguém é de ferro. E, porra, de que adiantaria lutar contra? Olha só em volta ─ todo mundo é assim. Tanta grana pra que, afinal?
Eis o background da paixão pragmática.
São tantas coisas em jogo.
Então a apaixonada pragmática saca de sua indefectível calculadora (a que dá o nome ilusório de Possibilidades Oníricas) e começa a somar e subtrair.
A conta, obviamente, é a mais fácil de todas de fazer. O apaixonado pragmático sabe, sabe em cada glóbulo branco e vermelho de seu sangue aguado, que não tem essa de se entregar a paixões. Liberdade é papo furado. Porra, no fundo, no fundo, o apaixonado pragmático não dá lhufas pr'essa merda de liberdade. Quando tem de escolher, opta pelo cativeiro. É tão mais fácil. E confortável.
Paixão de verdade é coisa de moleques.
Ninguém tá aqui pra perder grana. Veja, basta calcular.

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