Ouço,
Todas as noites, as noites
Todas ouço
Ao longe a voz de tenor
Carregando de sons o mundo
Feito um rastaqüera raid da Luftwaffe
Ai que dor!
Ai que dor!
Ensurdecido, preciso sair
E vê-lo passar
E ele passa
Arqueado
Mãos nos joelhos
Querendo fazer-se de
Símio
Ai que dor!
Ai que dor!
Ensandecido, fecho os olhos
E prossigo vendo
O atormentado cometa singrando esta
Rua da minha infância
Ai que dor!
Ai que dor!
Como se não soubesse dizer outra coisa!
Como se nunca tivesse dito outra coisa!
Ai que dor!
Ai que dor!
Emudecido, vejo que ele
Pára, um parar espasmódico,
E gira o pescoço e olha
Para trás, como se alguém
O seguisse. Olho para onde
Ele olha, não vejo ninguém.
Olho de volta para ele. Tem
Olhar de quem vê.
Outras vezes pára como
Esperando e quando aquele
A quem espera o alcança, de
Repente arqueia de novo as costas,
Repõe as mãos nos joelhos e retoma
O passo estudado, o avanço predestinado,
e retoma
A toada
Ai que dor!
Ai que dor!
Vai sumindo no fim da rua, nesta
Rua que jamais foi minha
A voz soando
Ai que dor!
Cada vez mais potente
Todas as noites
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