Por motivo de viagem
Interior
(passando, sabe-se lá como, por
Poços de Caldas
Ou, sabe-se lá por que, Crato no Ceará
Pra conhecer o padre Cícero).
Poeta em infindáveis
Vias tortuosas de se aposentar
Põe à venda e/ou
Dá,
E se não vingar,
Disponibiliza,
Batelada de
Alexandrinos enviesados,
Meio grama de lirismos comedidos e
Meia tonelada de irrefreados,
Mais um lote de arrebatamentos, por
Pura e descomunal incompetência,
Inexprimíveis.
Três caminhões de excessos
Imensuráveis,
Pencas de emaranhadas linhas de
Ariadne (e se o comprador achar
O fio da meada, peço,
Me esqueça).
Do passado embargadas
Vozes ciciantes
Sempre escutadas e
Jamais seguidas.
Dois, três, mil copos de arrependimentos.
Metade com, metade sem adjetivos.
Fingimentos sortidos. Dissimulações
A granel.
Mentiras lavadas. Verdades deslavadas.
Tardes torturadas. Visões
Uterinas. Maios temporões.
Manhãs bombardeadas por
Borboletas lingüísticas
Cabeçudas.
Ridículos, ah,
Ridículos de tudo que é
Jeito.
Vexames a dar
Com o pau. Oito metros
De olhares camuflados. Quintais
Varridos d’impoluta bruma invernal.
Vendavais imperceptíveis.
Terremotos debochados. Enigmas
Que as crianças de hoje – e
De ontem – resolvem
Num piscar d’um olho só. Mistérios
Manjados. Segredos
Desinteressantíssimos.
Trezentos séculos de monólogos encenados
no Grande Teatro da Solidão.
Desabusos.
Desacorçoamentos.
Tonturas em geral.
Macambusismos.
Solitárias travessias d’ida pelo
Cabo das Tormentas e volta pelo
Da Desesperança,
Quinze sacos de perplexidades
Caladas. Versos. Versos.
Versos. De primeira necessidade.
De segunda mão.
De quinta categoria.
Versos frustrados. Erráticos.
Tolos. Pretensiosos.
Velhacamente singelos.
Estudados. Idiotas.
Mais a porrada, a indefectível porrada de metafísicas envergonhadas.
E orgasmos simbólicos.
E símbolos orgásticos.
E uma lagartixa que à noitinha
Sai da toca e vem comer
Mosquitinhos na minha parede
Só pra me distrair.
Tudo praticamente teórico.
Tudo sem uso.
Nada sem rima.
Tudo sem nada.
Tudo sem graça.
Sob a insoprável poeira dos dias idos.
Submissível a
Processo.
Estudo troca
Por bicicleta de mulher,
Livro de Agatha Christie sem a
Última página,
Thriller de autor brasileiro.
Posso emprestar.
E se a compradora for loira ninfa com bacharelado
Em Berlim e com meiga voz de ninfa redentora diga
“Sim”,
Dou um genuflexo
De brinde.
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