Sórdido eu?
Que isso, bondade sua.
Taí uma palavrinha que sempre me
foi simpática.
E, dádiva, rima com mórbido.
Desde guri tento ser um cara
sórdido mórbido.
(Mastiguemos: SM).
Hoje, 57 primaveras no lombo, me
acho no meio do caminho.
Sinto que não viverei o bastante
pra chegar a SM.
Não taux a fim de ultrapassar os
58.
E atingir o status de SM qual um
Miller, um Genet, um Jô Soares (mastiguemos de novo: hehehe), requer não só
vontade mas também talento.
Felizmente não tenho nenhum de
ambos.
Mas, veja, embora não seja hoje
um SM literário, sempre o fui pessoalmente. Eu, SM nato, e os não SM, temos e
sempre tivemos um relacionamento conflituoso: eles têm nojo de mim, eu tenho
nojo, asco, repulsa e repugnância deles.
Agora me referindo à poética,
quero acrescentar que um poeta que se preze deve necessariamente ser um SM. E
se não for de nascença, deve fazer um curso. Por intensivo que seja. Eu mesmo
sou professor. E não cobro nada para ensinar.
Quero também dizer aos que
pensam que a poesia se resume a flores e anjos que não confundam Quintana e
Rilke. Rilke fez as Elegias de Duíno em que seus anjos são tão
dominantes, mas não tem nada a ver com as gracinhas de Quintana et adjacências.
O mesmo princípio se aplica aos que
batem o pé e não me aceitam como sou.
Muitos dos que pensam “gostar”
de poesia se viciaram em quintanas e florbelas e até em meu amigo Leminski que
às vezes reduzem a poética a um gracejo pueril, tanto quanto Verissimo reduziu
a crônica a uma piada de papagaio.
Por isso esses preferem minha
prosa à minha poesia.
Sinto muito: tal preferência
apenas demonstra que não sabem o que é poesia.
Há por aí alguns que não
consideram a poesia sagrada.
Que dizer então de poetas?
Poetas fazem cocô, arrotam,
tiram caca do nariz da mesma forma PROFANA que os bípedes normais.
Mas, estando eu do lado de CÁ,
tenho minhas dúvidas.
E esse tipo de dúvida é um dos affairs
que fazem parte especial do menu poético.
Ouso mesmo defender que a poesia
(e aqueles que a criam) devia ser ensinada nas escolas desde o 1º ano.
Mas não como fazê-la, pois fazedura
de poesia não se ensina nem se aprende.
E sim como respeitá-la. E,
dependendo, temê-la. E, dependendo mais ainda, glorificá-la aos píncaros de
Vênus.
Porque, sabe, são tantas as
vidas que se debatem numa gota de saliva trocada num beijo.
São tantas as possibilidades que
se abrem neste meu copo de uísque.
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