Pensamento errático na rua Arruda Alvim



É cafona essa gente por aí que se denomina "Zé Poeta", "Maria Poetiza", "Jukinha dos Doces Versos", "Belinha das Belas Letras".
É cafona quem posta "Ai que lindinho este meu versinho", "Assinado: Joãozinho da Silvinha".
Poeta, embora poeta, também faz parte do mundo. Caga, mija e vomita como qualquer outro bípede erectus. Portanto, pode ser falso ou legítimo como qualquer nota de dólar ou uísque paraguayo.
O mero versejar não faz do versejador um poeta.
Tenho cá pra mim que poeta legítimo (ou, for that matter, qualquer um que se expresse em qualquer forma literária) não pode se autopromover como se fora um agente publicitário de si mesmo, se confundindo com uma caixa de sabão em pó. Para isso existem Omo e paulos-coelhos.
Sim, não pode.
É questão de pudor.
O distinto público apreciador da poesia (e da literatura em geral), digo, da genuína poesia e literatura, não quer ser tratado como consumidor de frases bem ajambradas e bonitinhas maceradas para deleite instantâneo e olvido imediato.
Se seu verso for um scotch digno do nome, o apreciador o identificará e saboreará sem que você precise anexar a ele, verso, um bordão propogandístico com o nome do produtor embaixo em neon pink.
Não há nada mais estranho à palavra que a embalagem.
Poesia não é jingle.
Poesia não é truque.
Antes de qualquer coisa, decida-se se quer servir à palavra ou simplesmente virar celebridade.

Um comentário:

  1. Certo, Wil! Agora está tudo bem explicadinho.
    Acredito que o poeta, poeta mesmo, tem a poesia na vida de forma tão natural que a autopromoção é o próprio modo de enxergar a realidade.

    Wilson, sumiste dos meios de comunicação virtuais. Pena, estão bem mais sem graça.

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