Thème russe
Ela podia ter ido de carro. O importado conversível
dormindo na garagem parecia que fora fabricado para ela. Seria estranho ver
outra pessoa no volante.
Sim, podia. Podia muitas coisas. Mas não tantas
quanto você possa imaginar. Ninguém tem essa liberdade de escolha infinita. Nos
meus delírios, imagino, e então ela pode o que quiser. Só que vou pular essa
parte. Não estou com a mínima vontade de falar dos meus delírios. Estou farto
de delirar. Queria escapar desse túmulo emocional em que me enterrei vivo.
Ela podia ter pulado dentro do carro, arrancado
c'um certo alarde nos pneus, fazendo o motorzão de oito cinlindros roncar e ao
mesmo tempo gemer sob a continência dos 400 cavalos domados a golpes no
acelerador. Em vez disso, ela simplesmente pôs uma sacola debaixo do braço,
abriu o portão lateral e saiu para a rua.
A idéia, parece, era ir até a feira. Nada mais
propício para essa missão que a propícia sacola de feira debaixo do braço. Ela,
simplesmente de novo, deu uma volta no quarteirão, duas, três, a luz do sol
aquecendo primeiro o rosto, depois os ombros, as costas, os seios...
E quando seu rosto começou a sorrir, ela voltou.
Eu podia acrescentar que assisti tudo, da partida
ao retorno. E que fiquei imóvel, sob o sol, esperando o desenlace. Mas não vou.
Cansei de acrescentar.
Não canse de escrever... Nem se limite aos delírios, deixa sair o que deseja naturalmente... Vc não cansou de escrever, apenas está respirando, tomando água e continuará... Esperamos mais "delírios", ou seja, sentimentos...
ResponderExcluirUm abraço!
Avante!
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