Momento Cultura Trash

O que vou dizer a seguir não é digno de dez palavras, really. Mas deve me distrair um pouco da passagem do tempo no chove-não-molha deste feriadão chuviscoso.

Ontem, domingo, RESSACA virgílica após bebedeira homérica na noite anterior, sábado. Como nos velhos tempos. Dia inteiro jogado no sofá, procurei um filminho merreca pra desopilar, acabei botando no DVD a “comédia romântica” Sexo sem compromisso.

Ficaria melhor se fosse apenas “Sem compromisso”, como o original, “No strings attached”. Pra variar os brasileiros encarregados de intitular o lixo estrangeiro resolveram inovar e botaram “sexo” no meio, encafonando tudo e quebrando parte do barato.

Barato que não se cumpre, obviamente. 

A dupla “romântica” é formada pela bela Natalie Portman e pelo belo, ugh, Ashton Kutcher.

Ela, aquela gracinha sem-graça saída de tempos em tempos das forjarias de Hollywood para alimentar o formidável apetite do planeta por escapismo. Quando fez o filme, Portman vinha dum Oscar por uma chatice estetizante e pseudo chamada “Cisne negro” que não aguentei assistir dez minutos. Portman é bonitinha, ponto, parágrafo. Abre sorrisos, franze o cenho e estreita os olhos nas horas certas na medida certa. Mas o roteiro e a direção desse divertissement meia-boca são tão ruins, que Portman quase sobra.

Quanto a ele, quanto menos disser, melhor. Seria chato e covarde esculhambar tão atroz incompetência que ameaça escorrer da tela e empoçar no chão da sala. Kutcher é o típico galã hollywoodiano: alto, bonitão, insípido e cara de bobo, sonho de certas mulheres de gosto estragado. Espero que Hollywood nunca nos mande o rapaz para protagonizar novelas da Globo em represália por termos mandado Rodrigo Santoro para Hollywood.

No filme o casal busca um prato-feito à moda do politicamente correto – ter um relacionamento afetivo com muito sexo, pouco afeto e nenhum amor. Sem compromissos. Tá na cara que não vai dar certo, por mais que a rapaziada de hoje “saiba o que quer” tal como num antigo comercial de Minister. E o que todos os que curtimos comédias românticas queremos é exatamente que não dê certo. Sabemos que uma CR é antes de tudo farsesca.

No fim, Portman se casa com Kutcher. Quer dizer, é de imaginar. Não devo ter assistido mais de vinte minutos.

Pra resumir a significância da trama numa linha, foi legal não terem retratado a mulher em busca de prazer na cama como puta. Não é pouca porcaria. Mas o problema parece estar exatamente aí. A cara de Portman ao longo das cenas a que assisti não parece a duma mulher a fim. Um grau a mais de frieza e poderia classificá-la de assexuada. Não sei se é a atriz ou a personagem, mas o resultado é uma sensualidade que nunca se resolve. Deve ser dureza transar c’uma mulher nesse estado.

O rapagão parece ir na mesma linha. Você fica lá olhando aquele carinha tesudo que passa cinco anos no filme sem atacar a presa até que começa a se perguntar, qual é? Vai pra cima ou não vai? Até que a incapacidade do ator em não extravasar no personagem põe tudo a perder. Kutcher é ele mesmo em todo filme que faz. Um baita tesão a quem pediríamos que não pensasse em nada a sério nem abrisse a boca. Que saudade me deu de Rock Hudson, homossexual dos maiores galãs héteros de Hollywood.

Aliás, a presa aqui não é a mocinha. É ele, o mocinho.

E eis que a minha segunda-feira sanduíche de feriadão que não chovia nem molhava acaba de entornar de vez por um filminho que prometia tempestades mas não choveu nem molhou.

Foi assim que voltei rapidinho pro meu caro poeta mexicano José Emilio Pacheco. Podem ler, que vale a pena. Pacheco, sim, molha que dá gosto.