Sem trava de segurança

Espere.
Estou tentando me entender.
Todos aí sabem, não é fácil.
À medida que tento vou experimentando sentimentos conflitantes.
Os sentimentos que sinto desde que existo.
Reluto. Tenho pudor em assumir ostensivamente que foi assim que passei, é assim que ainda passo, é assim que passarei minha vida.
Percebi, hoje cedo ou ontem, que para me entender preciso entender os outros.
Nunca pensara nisso em meu plano para me safar com relativamente poucos danos.
Os outros são para mim tão incompreensíveis, que frequentemente acho que frequentemente não me compreendem.
Olho, olho o rosto de cada um deles e procuro captar. Captar o que minha habilidade de ser incompreensível e de ser incapaz de compreender me permite captar.
E se, ao invés de compreendê-los e eles a mim, tentasse compreender o mundo deles e o eles o meu?
É um processo mais ou menos ameno.
Há ocasiões em que penso ser capaz de distinguir em mim mesmo um sentimento que distingo em outros.
Em outras, me vejo incapaz de distinguir em mim mesmo um sentimento que não distingo em outros.
Fico torcendo para que não esperem de mim o que eu mesmo não espero.
Você alguma vez já parou para esperar o imprevisto?
Eu já. E não foram poucas vezes.
É atividade sujeita a altos índices de acidentes.
Nas vezes em que esperei, o imprevisto me surpreendeu. Não necessariamente da maneira que esperava, não necessariamente da maneira que não esperava.
Neste processo de tentar me entender — e entender um pouco por que não me entendo —, venho logrando ficar cada vez menos confuso.
Será esperar a amarga sensação de impotência de ter de admitir amargamente a impossibilidade da compreensão possível?
A minha, sua, a sua, minha.
Você pensa, com razão, que estou falando com meu umbigo. Ao passo que penso que você está falando só com você mesmo.
Provavelmente estes sintomas se devem a esperar provavelmente.
Queria ter aprendido que nunca poderia dar certo.
Assim, fui obrigado a concluir que tudo que devo, devo à minha própria compreensão das minhas próprias palavras.
Supremas, não se prestam a esclarecer.
Ou a me aproximar.

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