Tratado do homem ordinário

A um adulto que me perguntasse
Aos meus quatro anos
Você tem medo do escuro?
Responderia: não.

A outro adulto que me perguntasse
Aos meus quatro anos
Você tem medo de monstros debaixo da cama?
Diria: não.

A cada expressão de espanto que já abriram diante da minha cara, queria dizer, querido, querida, estranhe à vontade.
Nasci acostumado ao espanto.
Sou o cara mais espantosamente estranho que conheço.

Se me acusarem de crime por ser o que sou, direi que foi uma persona minha.

Se alegarem que a desculpa não é suficiente, alegarei que sou poeta.

Detesto poetas que têm personas.
Detesto pessoas que são poetas.

Sou apenas um sujeito sonolento que mal pode esperar a hora de dormir.
Nunca tirei foto, nunca procurei o amor da minha vida, nunca li Virgina Woolf, não sei quem é Virginia Woolf nesta tarde sufocante de novembro deste dezembro em que ainda estou vivo.

Se ainda houver tempo
Se alguém me perguntar
Você tem medo de alguma coisa?

Responderia: de truques

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