Acho que chegou a hora
De contar um dos meus
incontáveis segredos
Um que aprendi menino
Quando 'inda sabia o mundo
Quando não tinha desaprendido
O que havia de bom
E me tornar o analfabeto da vida
que hoje sou
Estava aqui
respirando
E me lembrei do segredo
em que nunca mais tinha pensado
Deve haver uma razão para esse
esquecimento
Como há razão para esta lembrança
O segredo, que o menino sabia e
O homem esqueceu
É que não existimos à toa
Não, não se trata de nada esotérico
Nem metafísico
ou cabalístico
Desde então tive
ojeriza por tal noção
Pois à medida que me graduava
no analfabetismo de ser
Este sujeito
culto, sagaz, sofisticado
aprisionado sob os próprios
critérios científicos
Este pobre-diabo inepto para o
prazer
Este auto-esquecido que de repente
me tornei
E é, o segredo, duma verdade tão,
Mas tão simples
Que fácil se diluiu nos delírios
Da minha destrambelhada cabeça
Sumindo como se nunca me
tivesse ocorrido
Existimos para amar
E quando não amamos
Nos esquecemos
Da razão de existir
De existir
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