Taux jogado no sofazão na sala vendo a
notícia da gravidez da Sandy (e eu que pensava que a Sandy não fazia sexo; será
que ela ainda acredita que o bebê virá pela cegonha?) quando pririririmnnn... O
celular, bidu, toca.
Salto animado rumo ao guarda-comida.
Adoro receber chamadas. Inesperadas, então, nem se fala.
Bom dia, flor do dia! – lasco de cara. É
sempre bom mostrar alegria, mesmo sem razão, mesmo sem saber a quem.
A única resposta que recebo é um arquejo.
Sim, há alguém do outro lado, mas ou é mudo ou está nervoso / ansioso /
esbaforido demais pra poder falar.
Alô! intimo. Quer falar com quem?
Quem é? – perguntam e mato no ato to taux.
É o cara. Digo, o poeta.
Rapaz, que surpresa! Pensei que não
tivesse telefone.
Não tenho. É da Cidinha.
Cidinha é alguma atendente do comércio que
ele tá comendo. Só se envolve com meninas de Minas pra cima. Alega que elas não
são cheias de frescura como as paulistas – se contentam em comer bem e escutar
um cedê do Leonardo. (Adoro o Léo!) As paulistas são só não-me-toques, têm
fissura em igualdade de tratamento e condições, chegam a querer mandar mais que
o homem. O poeta não deixa de ter razão em alguns aspectos.
Uau, deve ser importante pra você tar me
ligando. Aconteceu alguma coisa?
Ainda não.
How so? – adoro praticar meu alemão. –
Quer dizer que vai acontecer ainda?
Hm-hm.
O que, exatamente?
Vou me confessar.
Uau! Essa não esperava. Se confessar c'um
padre? Numa igreja?
Sim.
Não sabia que era católico.
Não sou. Mas pra se confessar não carece.
Pelo menos foi o que me disseram.
Quando vai ser?
Daqui a pouco.
Onde?
Na Matriz. Com o padre Geraldo.
Que bom! – procuro dar meu apoio. É
sempre bom ver uma ovelha desgarrada querendo retornar ao seio do rebanho banho
anho nhonhau.
Preciso da sua ajuda.
Epa! Fico confuso. Pra que é que ele
precisaria da minha ajuda numa confissão?
Cl-clar-o – mumunho entre tartamudeios.
Não se preocupe – se solidariza com minha
preocupação. – É apenas um empréstimo.
Tá precisando de grana?
Não. Da sua máquina digital.
Se se comprometer a tomar cuidado, no
problem. Paguei uma fortuna.
Aí é que tá. Preciso que me acompanhe.
Até a igreja?
Sim.
Pra quê?
Filmar.
Filmar o quê?
Minha confissão, oras.
E posso saber com que propósito desejar
filmar sua confissão?
Já esperava a pergunta. Por isso tô com a
resposta pronta. Pra depois ter prova concreta de que me confessei de fato.
Prova pra quê?
Pra não pensar que foi delírio, entende?
Entendo – respondo, mesmo não entendendo
lá muito bem.
Topa?
E se lhe mostrasse como usar a máquina e fosse
sozinho?
Nem pensar. Não sei usar essas
geringonças. Nem quero aprender. Até o celular quem disca pra mim é a Cidinha.
Tá bom, então – me conformo. Sempre fui
leal aos meus amigos e não seria desta feita que deixaria um na mão ão ona.
Te espero às dez em frente à Matriz.
Combinado.
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