Thirty-First of the Year

Sô tá menstruada e quer transar de manhã, à tarde, de noite e de madrugada. Perdeu o resto da vergonha quando mencionei que era sinal de otimismo e crença na vida. Sei jogar meus leros quando vejo a coisa preta. Deu uma arrefecida, consegui me poupar da trepada da madruga. Acho que pouca coisa nesta vida é mais complicada que mulher em cio permanente com vocação pra macho. Mês passado ou retrasado a solução foi ir no chópin e comprar um anel de opala banhado a ouro, quase trezentos paus. Não esquenta, nenê! Agradar o companheiro ou a companheira é o dinheiro mais bem gasto do mundo. Na hora me perguntei se ela andava lendo o Fabrício Carpinejar, achei deveras improvável. Carpi é muito feio pruma mulher como Sô que sabe o que quer. Mulher que sabe o que quer quer machos alfa. Todo mundo quer, até eu. E Carpi precisa se decidir se quer ser poeta, escritor ou subcelebridade televisiva. Já bastava aquele poema-homenagem às vítimas da boate Kiss, “meu estado”. Bom, aí chegamos no Vera mas o Vera é caso à parte, escreve redondo e não sofre de pseudices apesar de eterno candidato a Jorge Amado do Sul.
Penso em Sô dia e noite e o que me distrai, assombra e atormenta é sua rusticidade, física, cultural e afetiva.
Foi o, acho, que encantou com relação a Sílvia, uma plutocrata assexuada que padece envergonhadamente duma agonia jamais assumida, não por razões justificáveis, “nobres”, como é o meu caso, mas porque, jesus, não pega bem.
Sei bem o que não é pegar bem. É o lema sob o qual nasci, cresci e gorei. E não vejo solução simples à vista. Uau, meu bem, de repente me deu imensurável pena de você. Não suporto comiseração por outros, se volta contra mim.
Sô deita na cama, abre as pernas, agarra minha barba, me puxa me forçando a lamber a buceta melecada de sangue e me lambuza a fuça, quero me olhar no espelho, não deixa, devo tar com a cara do charles manson, tocam a campainha.
Deve ser papai.
Não! abano a cabeça.
Enrola o lençol no corpo como faz a madonna naquele filme, vai ver, volta, é engano, fico cismado, engano a porra.
Deixa de nóia, bebê, puta merda, estamos em pleno verão, vê se curte um pouco. Vem cá, mete nessa bucetinha generosa matriz de todos os males e além.
Posso lamber, sugar noite fora se preciso for, já não vejo sentido em reproduzir. Tenho culpa se somos meros animais, inclusive na incapacidade de nos sabermos animais? Não ouso explicar tamanha profundidade a ela, obviamente. A animalidade não admite instâncias outras e é aí que me sinto ludibriado por esse controle que não me permite que o olhe de frente. É tudo incalculavelmente mais simples quando você vê novela ou escuta um roquinho.
Até uma época gostava de culpar papai por não ter me alertado que era um condenado a viver a vida. Ele fez o mesmo com o pai. Rio. Querendo chorar. Por que não posso chorar desbragadamente simplesmente?
A resposta é tão óbvia, que dá vergonha explicitar, não é?
A resposta é o cheiro de sangue fresco minando duma buceta a se refestelar no teu fucinho.
Ela me puxa, me lambe a cara me limpando a boca e a barba. Dorme bem, fofo. Sonha comigo. Se roncar, amanhã vou te botar aquele anel terapêutico que a anvisa proibiu.

Desmaio sonhando que nunca mais haverei de ler Jorge Amado, a culpa não é minha. 

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