Tarde de sexta.
Juquinha volta da escola. Na calçada ao seu lado direito está Zinho. No
esquerdo, Dinho.
Zinho é um
bobalhão. Dinho também. Juquinha não conhece ninguém que não seja um bobalhão.
Juquinha está
melacólico. Acabrunhado. Olha de soslaio para Zinho, esperando que ele também
esteja. Decepcionado, lança uma zoiada para Dinho. Ninguém jamais fica
acabrunhado. Só ele. Só ele.
Sabe – bem no
fundinho, sabe. Existem umas milhares de razões para estar assim. Dessas
milhares consegue “identificar” umas três. A segunda é esse nome miserável pelo
que os outros o chamam. A primeira é não saber enumerar. Não adianta – nunca acerta
as coisas na ordem.
Tirando algumas
histórias de criança que sua mãe lhe contou quando era pequeno, nunca conheceu
nenhum outro juquinha.
Há uma quarta
razão: Ferônica, a princesinha do quinto ano por quem está apaixonado
tresloucadamente. No recreio ela o chamou a um canto da quadra de futebol de
salão:
— Facultates
mechanicae omnes magistros linguae latinae! — disse.
— Huius
temporis scriptorio facta emendavi ut spero — Juquinha respondeu aos cochichos
para que a molecada em volta não escutasse.
— Nos complures
et varios auctores? — Ferônica estranhou.
— Notionibus
modo et constructionibus servatis... — Juquinha desbaratinou.
— Hoc est tomus
felatio! — ela finalizou, rumando para o banheiro dos professores.
Depois desse
diálogo Juquinha ficou ainda mais triste. Também sem saber por quê.
São esses tipos
de obscuridades vagas e indistintas que passam pela chapa de aço-carbono que lhe reveste a cabeça
quando dobram aquela estranha esquina da rua com outra rua... e dão com o Furgão.
Juquinha estremece.
Zinho fica lívido. Dinho empalidece. O açougueiro que observa a cena coça o
saco e entra em seu estabelecimento para atender uma freguesa que acaba de
chegar.
O vidro do
Furgão desce, um braço surge lá de dentro. A mão do braço faz um gesto. É para Zinho
se aproximar. Zinho obedece. A porta traseira do Furgão se abre. Zinho entra. O
Furgão se afasta guinchando os pneus. Juquinha fica olhando o furgão preto
luzidio sumindo no fim da avenida, lindão de morrer. No fundo, no fundo está em
dúvida se prefere ter um furgãozão desses ou uma mulher como a mãe de Ferônica
quando crescer.
Agora vai ter de
contar pra mãe do Zinho. Ela vai chorar. Que é que pode fazer? O furgão sempre
pega crianças voltando da escola.
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