Twenty-Eighth of the Year

Tarde de sexta. Juquinha volta da escola. Na calçada ao seu lado direito está Zinho. No esquerdo, Dinho.
Zinho é um bobalhão. Dinho também. Juquinha não conhece ninguém que não seja um bobalhão.
Juquinha está melacólico. Acabrunhado. Olha de soslaio para Zinho, esperando que ele também esteja. Decepcionado, lança uma zoiada para Dinho. Ninguém jamais fica acabrunhado. Só ele. Só ele.
Sabe – bem no fundinho, sabe. Existem umas milhares de razões para estar assim. Dessas milhares consegue “identificar” umas três. A segunda é esse nome miserável pelo que os outros o chamam. A primeira é não saber enumerar. Não adianta – nunca acerta as coisas na ordem.
Tirando algumas histórias de criança que sua mãe lhe contou quando era pequeno, nunca conheceu nenhum outro juquinha.
Há uma quarta razão: Ferônica, a princesinha do quinto ano por quem está apaixonado tresloucadamente. No recreio ela o chamou a um canto da quadra de futebol de salão:
— Facultates mechanicae omnes magistros linguae latinae!  disse.
 Huius temporis scriptorio facta emendavi ut spero  Juquinha respondeu aos cochichos para que a molecada em volta não escutasse.
 Nos complures et varios auctores?  Ferônica estranhou.
 Notionibus modo et constructionibus servatis...  Juquinha desbaratinou.
 Hoc est tomus felatio!  ela finalizou, rumando para o banheiro dos professores.
Depois desse diálogo Juquinha ficou ainda mais triste. Também sem saber por quê.
São esses tipos de obscuridades vagas e indistintas que passam pela chapa de aço-carbono que lhe reveste a cabeça quando dobram aquela estranha esquina da rua com outra rua... e dão com o Furgão.
Juquinha estremece. Zinho fica lívido. Dinho empalidece. O açougueiro que observa a cena coça o saco e entra em seu estabelecimento para atender uma freguesa que acaba de chegar.
O vidro do Furgão desce, um braço surge lá de dentro. A mão do braço faz um gesto. É para Zinho se aproximar. Zinho obedece. A porta traseira do Furgão se abre. Zinho entra. O Furgão se afasta guinchando os pneus. Juquinha fica olhando o furgão preto luzidio sumindo no fim da avenida, lindão de morrer. No fundo, no fundo está em dúvida se prefere ter um furgãozão desses ou uma mulher como a mãe de Ferônica quando crescer.
Agora vai ter de contar pra mãe do Zinho. Ela vai chorar. Que é que pode fazer? O furgão sempre pega crianças voltando da escola.

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