O autor, um safado
de padastro e mãe, tem certeza de que o amiguinho leitor e leitora maviosa querem
continuar a ler nossa linda série de relatos nada inócuos para crianças, que
bolamos só pra escarafunchar as sujeirinhas mais recônditas que o leitor bobinho
e a futura pistoleirinha cultivam bem lá no fundo de suas alminhas demoníacas.
Nosso
personagem fofucho de hoje atende pelo sonoro nome de Joãozinho.
Como todos
sabem, Joãozinho morava num bairro nobre de Sampéia. Era filho único, embora
nem a nobreza do bairro nem a unicidade da filiação exercessem qualquer influência
na fraterna e generosa visão que o moleque tinha do mundo, naturalmente.
Apesar do
bairro etc. e do pedigree tal, o bestinha nunca estava lá muito bem com a vida.
(E se você, leitor confusinho e tontinha leitora, não gosta de quem nunca está lá
muito bem com a vida, tem um monte assim de blogs por aí com leituras mais
edificantes. (Tudo bem, qualquer leitura é mais edificante que esta, hehehe.) Alguns
até estrelam receitas de de bolinhos de chuva e, de quebra, de como ser feliz.)
Nosso desassombrado
Joãozinho era tão fraterno e generoso, que bastava ver um garoto de rua
esfomeado na esquina e pimba! se punha a choramingar, Manhêêêêêê, quelo um desses
pla blincá.
(Outrossim,
sabe-se que esses garotos de rua não têm o mínimo patriotismo. Alguns chegam até
a falar mal do Brasil e o nosso capetinha mimado jamais admitiria que um de
seus brinquedos fosse impatriótico.)
— Buá! Buá! Quelo
um meninin de lua, mamã!
Ao que a mãe,
com toda justiça, lhe tacava uma tremenda duma, uma sonora duma bofetada no
meio fuça:
— Não gosto que
me chame de mamã! Coisa mais boiola, seu! E já disse! Onde iríamos botar um molecote
desses? Só se fosse no fundo da piscina! —
Assim dizendo, a santa esbaforiu uma de suas gargalhadas de hiena, a que
finalizou ao molde dos nossos sensíveis patrícios da facebook: — Rá he rá he rá
he!
O guri insaciável
engoliu em seco, glup! e deixou quieto.
Sendo um sacana
de pai a mais não poder, um dia voltando da escola o trogloditinha não
resistiu. Quando um dos garotos de rua o abordou para pedir esmola, o
nobrezinho herdeirozinho catou o miserável pela mão e o puxou para dentro da
limusine, comandando:
— Vem cá, meninin!
— Mamã não vai
gostar nada-nada-nada! — admoestou o chofer, franzindo os sobrolhos.
— Mamã é o
caraio, seu boiola encalacrado, bicha esclerosada, cria duma ratazana manca! Mete
esse pé de tartaruga senil na tábua! — Sim, nosso intrépido mimozinho era o epítome da fidalguia nacional.
Chegando em
casa, Joãozinho levou às escondidas seu mais recente brinquedinho para o
quarto, ligou a tevê e recomendou:
— Garotin, fica
aí vendo o Ratin que vou lá na cozinha pegá umas guloseima procê comê. Voncê tá
pareceno uma cavera, rapá!
E lá se foi nosso
pequeno anfitriãozinho, que alguns minutos depois voltou cuma batelada dos mais
deliciosos quitutes para seu novo mascotin: centenas de danoninhos, dezenas de
centenas de pacotinhos de salgadinho imitação bêico, centenas de dezenas de
saquinhos de salgadinho imitação quejo-de-cavalo, oito travessas de Sauerkraut,
que papá e mamã tinham trazido da Itália quando foram ao Canadá ano passado, quinze
caçarola(s) de mingau de tornozelo de capivara, oitenta e nove litro(s) de coke
zero, quinze barril de chope e vinte e nove latas de cola à base de tinner.
Assim que botou
os zoio no banquete, Garotin, que nunca tinha comido lhufas na vida (e olha que
já estava com quase cinquenta e dois anos e meio), atirou-se sofregamente ao pantagruélico
tesouro dum salto sem vara e passou a noite roendo, deglutindo e fungando à
farta.
Na manhã
seguinte, bidu. Garotin tinha virado um baita dum garotão estufado de proteína,
entupido de revolta, sobrecarregado de sede de vingança. Catou nosso lindo
heroizinho Joãozinho e lhe passou o cabo do rodo, botando-lhe as tripas para
fora e o fígado pela boca. Ato contínuo, se dirigiu ao quarto dos pais do
pestinha e estrupou a mãe, o pai e o cachorrinho branquinho qual a neve que
atendia pelo nome de Frufru. Pra não perder o embalo, deu uma passadinha básica
nos aposentos da empregada, que era casada com o chofer, e detonou ambos. Sobrou
apenas o periquito, que se escondeu embaixo do tapete. E o garotão, sendo um moleque
muito dos burro(s), mas bem burro memo, não viu.