Tudo bem, pode dizer que foi o destino

Tinha de acontecer.
Ligo pra ele em Sanca pra lhe desejar feliz aniversário, ele diz que se lembra de Daniele vendendo rifa da escola em frente de casa enquanto escutava Sexie Sadie dos Beatles vindo a todo volume da casa. Faz tanto tempo que não nos vemos, fora aquela tarde indo pra sede daquela empresa de seguros em algum ermo de Sampa, que passamos encalacrados no trânsito. Combinamos nos encontrar amanhã para uma bebida na Rio Grande do Sul e caímos na gargalhada. Ele está sem trabalho há anos e não tem um centavo sobrando. Penso em lhe sugerir que envie currículos para algumas empresas, mas desisto e ao invés do absurdo da ideia pergunto se tem visto o Evandro. A última vez foi na festa naquela casa perto do bosque. Lembro que também fui mas desisti de entrar na hora agá quando alguém me chamou para outro lance.   Um amigo e era verão. E havia um monte de gente em volta. A música (Allman Brothers, Jefferson Airplane, Quicksilver Messenger Service) estava na última. De fora pude enxergar os barris de chops e a fumaça da erva flutuava pela rua. Espera, pedi. Antes preciso ir o banheiro. A caminho do banheiro um montão de gente, rapazes, garotas, casais, casais. “Vem por aqui”, alguém disse. E fui. Lembro que fiz xixi e quando saí sentei na grama diante da casa perto do bosque e tirei caneta e papel da minha bolsa tiracolo e escrevi um poema dos meus poemas bobos para ele.


(Amanhã vou falar das sombras.)