blimblim

Se Algo Sobre-humano um dia chegasse pra mim dizendo que eu poderia realizar um desejo: prolongar a vida dum ser humano pelo tempo que me aprouvesse. E poderia escolher tal ser humano a meu único e exclusivo critério.
Então arfaria por intermináveis segundos e procuraria conter a emoção e a ansiedade e, se não tivesse um enfarte, me recomporia qual num filmeco de woody allen e diria, sim, já escolhi.
E a ninguém — muito menos ao Algo Sobre-humano — ocorreria fazer a pergunta que qualquer mortal faria então.
E se alguém na plateia me perguntasse por que, eu comprimiria os lábios e viraria os olhos — qual num filmeco de woody allen — e penduraria os polegares das duas mãos no cós das calças e explicaria paciente:
Cara, você tem algumas opções na vida pra não enlouquecer. Encontrar uma morte precoce, por iniciativa própria ou não. Fechar os olhos e fingir que não é com você. Se entregar ao álcool, ao craque, à heroína. Ou, quando a bicha desembesta e vem braba pro teu lado querendo satisfação, redenção, vingança, botar Meeresstille und glückliche Fahrt no radinho de pilha de plástico preto e amarelo que teu pai te deu no teu décimo-sétimo aniversário.