Da série Olhos sujos XIX

Eis que se fecham, mortos,
Quando os limpo.
Dickey conhecia o segredo
De cair ileso
(Meu caríssimo James,
Não perdes por esperar.)
E amiúde visitava salas
Nas quais não poderia
Morrer.
Já eu, não sou de
Segredos. Desconheço.
(Sei que os tenho, posso
Vislumbrar sua remotíssima
Presença nos mais diversos
Momentos do dia. Olho-os
Apenas, às vezes nostálgico,
Outras, triste – atenção,
Não frustrado – por não
Ter forças para caçá-los
Como a bicha profunda
Gore Vidal galinhava biltras
Nas quebradas da noite.)
Segredos não me interessam.
Me cansei mortalmente dos
Que rastejam às escondidas
Amputando-se de seus céus
E horizontes para fugir do
Alcance dos meus olhos.
Cultivadores de segredos
Se dedicam a vida toda
À confissão. Ajoelhados,
Confidenciam que têm
Pena dos animais, que,
Crianças, cuidaram duma
Pomba de asa quebrada
Como se fosse sua filha
E  dois olhos castanhos
De podres fitam as
Redondezas buscando
Um destino.