O poeta é um
frustrado que busca
e busca e
busca
o sucesso dum
verso que não lhe roube o conforto da frustração.
O poeta é um
sujeito amargo que
busca e
busca
e busca
a musa do beijo a lhe lembrar que a doçura existiu um dia e ainda existe
mas não o
sufoque sob a gota enjoativa do mel
O poeta é um
desencantado
um desencantado
premeditado
um desencantado
cioso de seu desencanto
cuja garganta
jamais emitiu uma gargalhada
cuja boca ri
uma vez a cada dez anos
cujos lábios,
quando sorriem, sorriem apenas no escuro
de preferência
quando ele está dormindo
um sorriso
furtivo
um sorriso
traidor
Ah, o poeta é
um
penitente
calculista
disciplinado
dependendo, até
masoquista
a guardar
eternamente o encanto para o último minuto
derradeira
cereja do pomar
de perfume
discretíssimo hostil ao olfato
e seiva de
infinita rarefação, que tão logo
nasce é raptada
pelo ar