Briga com o mundo? É comigo mesmo

Vira e mexe, pombas, aparece alguém querendo ressuscitar a “polêmica” se o que Paulo Coelho escreve é literatura. Bem, pode ser polêmica para alguns colunistas espertinhos dos jornalões e revistões sem estofo pra debater questões defacto importantes e que por isso mesmo raspam o fundo do tacho de sua indigência cultural-intelectual. Esses sujeitos têm mesmo grande consideração por seus leitores.
Dei um “paulo coelho” no google e o primeiro link me leva ao site oficial do homem, onde o primeiro link me leva ao perfil dele no facebook.
Está lá: quase 20 milhões de curtidas, mais de 3,5 milhões “falando sobre isso”, o que nem imagino que signifique.
Volto ao google. Um milhão e setecentos mil seguidores no g+.
Ah, olha outro aqui. Quase vinte milhões de “me gusta” no face em espanhol. A cifra é mais ou menos igual à do brasileiro. Têm relação? Pelo menos aprendi que “curtir” na língua de Federico Garcia Lorca é “me gusta”. Que rico.
E falta ainda falar dos recordes de vendas de seus livros na Europa. Lembro que há uns anos foi o mais vendido na Alemanha e, se não me engano, na França.
Fiquei chocado.
Pensei que fosse engano.
Não era. O sr. Coelho havia mesmo estendido seu império de fajutices das letras às terras de Antonin Artaud e Joseph Goebbels, aquele que sacava o revólver quando ouvia a palavra cultura. Que será que Herr Joseph faria se escutasse “subcultura”?
O que Paulo Coelho escreve não tem nada a ver com literatura, tenho certeza. Mas com números, não há dúvida.
Não entendo muito bem por que é que os literatos e os que escrevem e leem literatura não erguem mais amiúde suas vozinhas pra denunciar o embuste Paulo Coelho. Não sei se seria o caso de pisar nas tamancas todo santo dia, mas alguém de prestígio devia sim senhor falar grosso toda vez que um fariseu na mídia subisse à tribuna para enaltecer o trambiqueiro. E, ao botar a boca no trambone, nada de levezas, fraquezas, delicadezas ou vaguezas. Tem de soltar o sarrafo. O embuste literário Paulo Coelho deve, sempre que surgir uma oportunidade, ser denunciado COM TODAS AS LETRAS. Se possível, AOS BERROS! COM TODOS OS PONTOS DE EXCLAMAÇÃO. SEM MEDO DE ACORDAR OS MORTOS.
Outro dia li na Folha (sempre a bendita Folha) um artigo dum sujeito lá e tentei comentar, mas há tempos consto da LISTA NEGRA do jornal e meu comentário foi engolido pela moderação. Como sempre digo e repito, a FSP É UM JORNAL COVARDE.
É impossível fugir do tema Paulo Coelho. Hoje tampo o nariz pra conseguir verter umas merrecas sobre o espertalhaço.
Pra começo de conversa, devo anunciar que nunca li uma linha sequer do sujeito. Então como posso afirmar tão categoricamente que o cara não é escritor?
Tal afirmação certamente soará disparatada para os idiotas da objetividade que Nelson Rodrigues elevou aos píncaros da glória.
A palavra é escassa, cada dia mais, e requer proteção. Quem considera Paulo Coelho literatura deve então aceitar que no mesmo barco navegue um titã das letras do porte de José Sarney. Ambos são, aliás, membros da ABL. O que mostra direitinho como funciona o grande mecanismo por sob a vida. As fachadas existem apenas para que os donos do mundo ocultem sua podridão e suas trapaças. Me admira que Lula ainda não tenha encomendado a um escritor de aluguel uma “obra” que lhe facultasse o ingresso na ABL, sobretudo depois que FHC entrou para o clubinho dos babacas literários.
Se Drummond não tivesse sido o maior poeta brasileiro, ainda assim mereceria eterna louvação por ter se recusado a disputar uma cadeira na Academia. E, de quebra, seu gesto de desapego às ninharias mundanas hoje serve de medida para aquilatarmos os motivos dos que buscam esse tipo de honraria pífia.
Quem se sentaria à mesa para um chazinho com o eterno presidente do Senado que há décadas trata o Maranhão como capitania hereditária, onde estabeleceu um misto de feudo e dinastia que se apropriou de virtualmente todo o Estado, que é último em índice de IDH, com a maioria do povo tratada como gado, vivendo em condições medievais de total distopia?
Quem apertaria a mão dum fóssil político sobrevivente do Brasil do século 19, um astuto retrógrado que trabalha ativamente para encobrir o saque das verbas públicas em seu Estado e no Senado, que opera ativamente para emperrar o avanço da legislação em consonância com o resto do mundo civilizado, que usa o poder para beneficiar a própria família e os amigos, que planta estrategicamente centenas de apaniguados nas maiores empresas públicas para sugar o Tesouro?
Não, nunca li Paulo Coelho e tenho certeza de que não é literatura porque ao lado dele, além dos sarneys arcaicos, está o biógrafo de aluguel Fernando Morais. E sei que agora um tal de sociólogo Fernando Antonio Pinheiro faz parte do clube.
Nunca li Paulo Coelho e tenho certeza de que não é literatura porque Paulo Coelho é parte dum mega esquema de marketing industrial que vende livros como se fossem sabão em pó, que "leitores" compram na fila do mercado sob esse primitivo impulso que hoje em dia os leva a consumir livros com batatinha frita sem saber a diferença entre um e outro, gente sem vida interna entregue ao sabor das campanhas publicitárias, robôs desconscientizados pelos ubíquos controles remotos de cada dia, autômatas que só sabem reagir a estímulos, só sabem fazer o que lhes mandam fazer, que nunca leram Shakespeare ou Goethe e portanto não entendem absolutamente lhufas de literatura.
Nunca li Paulo Coelho e tenho certeza de que não é literatura porque contra ele estão, repito, os críticos e os escritores que tenho por grandes e que já me provaram êne vezes que não, Paulo Coelho nada tem a ver com literatura.
Não, não preciso ouvir xitoró e chorãozinho para saber que o que fazem não é arte. Ou caber-me-á apresentar o ânus da prova?
Paulo Coelho é tão escritor quanto Roberto Carlos é cantor, Maria Betânia é poeta, José Wilker era ator.
Quem lê, quem ama, quem necessita da LITERATURA sabe do que estou falando. Quem não, é mero papagaio reverberando os ditames da indústria cultural.