Sô tá naquelas manhãs. Azeda. Morro de
medo. Uma mulher habitualmente cordial e suave é assustadora ao mudar de humor.
Ainda mais porque não tem motivo aparente. Mamãe chamava de brasa adormecida. Que
falta tenho de mamãe e seus diagnósticos precisos de quem teve energia de sobra
pra viver quase cem anos. A sombra mais triste que vi nos olhos dela foi um
dia, quando já tinha passado dos noventa, perguntei se tinha medo da morte e ela me olhou
e sorriu triste e balançou a cabeça fazendo que não.
Não me atrevo a perguntar por que o
revertério, claro. A menos que estejamos na cama, onde posso agarrá-la pelos
pulsos e montar na capivarilda e botar pra fora minhas teorias. Isto é, se
estiver razoavelmente alto, com ânimo etílico de ser o campeão do rodeio. Viro ela
de bruços e alinho meus 115 kg ao corpinho de modelito e me boto a saracotear,
só falta o chapelão de caubói, nunca mencionei, ia exigir na próxima. O fim é
sempre o mesmo: arreio o shortinho de renda até os joelhos e exponho as nádegas
gotiformes à lâmpada florescente e afasto as montanhas uma da outra como se
fora Moisés para enxergar até o fundo do vale sacro e minhas glândulas
salivares excretam uma boa dose de lubrificação que escorre dos meus lábios e Sô,
nunca perdendo a sincronia com meu ritual, finalmente suplica Me enraba!
Como toda mulher de verdade, ela
descobriu como atiçar meu tesão me fazendo pensar que o controle está comigo. Como
toda mulher de verdade, Sô nunca trocaria o prazer com o homem que ama por uma
disputa espúria de poder. Sabe que política tem hora e que o mundo está lotado
de feministas malcomidas, embora, graças aos céus, seja incapaz de teorizar a
respeito. E muito provavelmente por isso mesmo.
Acendo um cigarro enquanto ela se veste. Tem
de ir pro buteco. Cobre as nádegas espevitadas com a calcinha rendada, delírio
de cada marmanjo doente de pinga a quem serve no balcão cum ensaio de sorriso
nos lábios rechonchudos estimulando a concupiscência dos pobrezinhos. Tenho dó,
sim, daquelas criaturas caídas da festa da vida e que nunca desistem de
participar, até a morte na mais indigente solidão. Sô, não. Explica que é
assim. E quando explica assim, acredito. A legitimidade da lição tem a ver não
com a própria e sim com quem a ministra. Os livros não me ensinaram nem um décimo
do que vou aprendendo com minha professorinha empírica.
Outro dia filmou nossa transa sem eu
saber, disse que vai botar no utube, fiquei apreensivo, será que faz parte do
curso?
Ela ri, dá de ombros, explica que os
internautas são um rebanho de cagões que querem receber tudo sem dar nada em
troca.
Acho que vou pensar nessa teoria amanhã
cedo, se acordar sóbrio.
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