Da série "Novos contos para crianças", VI

SEIS DE ABRIL DE DOIS MIL E DEZOITO, histórica data em que o maior assaltante do Erário Nacional está finalmente indo em cana.

Lamento, ó quanto lamento que as tenebrosas brumas da químio me impeçam de verter um textículo todo especial para tão resplandecente, orgiástica ocasião. Embora circunstancialmente mudo, meu coração está sob um batuque de alegria.

Mas não vou deixar o festim passar em branco, obviamente. Ressuscito abaixo um continho escrito há uns quatro anos em homenagem ao maior larápio que a desfortunada loteria da vida excretou nas desoladas terras sertanejas de Pernambuco.




É mais uma tarde errada dum certo dia.
Nosso glorioso Zezinho vem voltando da escola. Está acompanhado de sua turma de coleguinhas baderneiros, amiguinhos encrenqueiros, chapinhas bagunceiros e comparsas da pesada.
Passam pela viela logo depois da avenida que leva para fora da cidade. Zezinho sempre sonhou um dia tomar essa avenida e sair pelo mundo sem rumo. Dobram a esquina. Se enfurnam e se agrupam numa roda. (Ai ai ai, tem dia que Zezinho fica tão hemingwayense.)
Uma vez fora da vista de curiosos, alguém no meio do bando tira da mochila uma lata. Dá uma aspirada e passa para o que está ao lado. Durante o funga-funga, a molecada vai discutindo como é gostosa e saborosa e deliciosa e apimentada a professorinha Mirna, de Educação Moral e Cívica.
Nessa que é apenas mais uma das tardes erradas de sua vida de pilantrinha, Zezinho aprendeu que um dia num lugar chamado Egito, cinco bilhões de anos atrás, um carinha tomando banho descobriu o verbo eurecar e se levantou de repente da jacuzzi  e saiu na rua gritando. Depois a professorinha Mirna ensinou à classe o que quer dizer fortaleza. Agora Zezinho sabe o que quer dizer fortaleza, mas que ninguém lhe pergunte o que quer dizer fortaleza, pois Zezinho não saberá explicar o que quer dizer fortaleza. Três décadas depois, se alguém lhe perguntasse o que quer dizer fortaleza – o que nunca vai acontecer, obviamente, pois ninguém quer saber o que quer dizer fortaleza e, mesmo se quisesse, Zezinho seria o último a quem iriam perguntar –, ele responderia que era a capital do Mississipi.
De volta à viela. Todos os moleques puxaram o carro, deixando Zezinho sozinho inho inho c’uma lata de cola na mão direita e um cachimbo de crack na esquerda.
O guri tá numas de fissura. O tiner não dá mais barato. O crack não resolve a falta de barato do tiner.
Cada vez mais febril e azucrinado, Zezinho vai esfregando a lata. Primeiro c’uma mão. Depois com ambas.
De repente aparece um negão à sua frente.
O menino, já entrando naquele primoroso estado que todos conhecemos pelo nome de nóia, retrocede uns passos até encostar na parede do beco.
Qu-qu-quem é voncê?
Larga mão de ser burro, seu tonto. Sou o gênio aquele. Da estória do Aladim.
Zezinho continua na mesma. Mesmo tendo frequentado escolas por dezoito anos, nunca tinha ouvido falar daquele porra.
Que é que tu quer de mim?
Quero te satisfazer um desejo. Que é que tu mais deseja?
Zezinho se recosta na parede. Tenta se concentrar. Nunca tinha pensado no assunto. Então se lembra duma coisa.
Uma lata de cola e treis pedra!
Não pode fazer mais de um pedido, admoesta o negão.
Que aladinho filho da puta! Zezinho xinga por dentro.
E não tem direito a reclamação. E não vale pedido manjado como Porche, iate, essas porcarias. Tem de ser original.
Zezinho escarafuncha o cerebrozinho atrofiado de tanto caldo de coca de quinta. É difícil para quem nunca pensou desde que nasceu. Enquanto se compenetra, vai chuchando o pintinho, distraído com os pensamentos. Alguns instantes depois a mãozinha apalpadora sente o bilau durinho. A sensação remete a uma lembrança – seus coleguinha maconheiro cherador vivem zombando dele por causa da peça miniatura.
Quero um pintão.
Que porra de pintão o que, caráleo? O gênio parece putanáceo. Não ofereço serviço à la carte. Os modelos disponíveis são: piu-piu, bilau, peru, cauda-de-jade, pilar-do-dragão-celestial e estátua-do-sadã.
Zezinho fica confuso. São tantas as opções. Mais um pouco, se sente parte do maravilhoso mundo encantado que existe na quarta dimensão entre o Ponto Frio e as Casas Bahia.
Pode ser qualquer um. Mas bem grande.
Grande quanto? Tem de especificar.
Maior que a minha perna.
A direita ou a esquerda?
Zezinho, que não é bobo nem nada, tira de letra:
A esquerda, claro.
O gênio faz um salamaleque (que, como você sabe, meu atento amiguinho leitor e minha amiguinha leitora teteizinha do papai, quer dizer ataque epiléptico em hebreu) e... Plim-plim.
Nosso dileto safadinho baixa a cabeça para olhar. Cadê o colosso? Não vê. Espicha as sobrancelhas. Até o antiguinho sumiu! Enfia a mão direita dentro da cueca, procura. Nada. Ou melhor, tem algo, sim. Um racho. Dá até pra enfiar o dedo. Parece até uma... uma...
Ergue os olhos para o negão, interrogando.
O gênio da lata de cola encolhe os ombros à guisa de desculpa.
Foi mal, cara. Sacumé, dez anos entalado com o cheiro de cola, tô meio descalibrado. Peraí, já dou um jeito.
Plim-plim-plim... Faz outro siricutico. Surge um banquinho de madeira na frente do menino.
Pra que esse banquinho?
Já vai saber logo.
Zezinho confere a virilha novamente. Tudo igual.
E aí, mané? Já tô ficando preocupado.
Só um minuto. Tô me preparando pra não dar outro vexame.
O pivete cruza os braços, impaciente. Era só o que lhe faltava, uma bucetinha no meio das pernas. E bem cabeluda, por sinal. Será que sangra que nem as das meninas da galera? Sente saudade do velho piupiu.
Plim-plim-plim-plim!
O novo, agora mais categórico, interrompe sua divagação.
De repente Zezinho é sacudido por um abalo. Por um instante teme pelo fim do mundo. À sua frente surge um salame, um salamão digno do nome, um mastodôntico mastro ornado duma glande-cabeça-de-barata com farto prepúcio suficiente para sanar a carestia do Ceará e ornado de veiazinhas azuladas em profusão a se espalhar em múltiplas ramificações pelo corpo da cobrona. É, como no dizer dos fessores na escola, um “membro”. Um membro a latejar em pulsações que, de tão possantes, doem. O guri quer passar a mão mas receia que a coisa exploda.
Pode tocar, diz o negão. Só tome cuidado na hora de bater punheta. Deixe à mão um balde pra recolher a porra. De preferência um tacho bem grande. Acredite, o “produto” é suficiente pra fertilizar toda uma plateia do Templo de Salomão da Universal, hehehe.
Zezinho alisa o estupendo falo. Uma baba escorre por entre seus lábios entreabertos de assombro.
E veja que “Ele” ainda está flácido. Magina só quando responder aos estímulos do mundo, hehehe.
Nesse momento Zezinho enxerga lá trás um cartaz colado num muro distante. O cartaz tem uma foto. É da Dilma. Tem alguém com a Dilma na foto. É o Maluf. A Dilma tá de lingerie negra, olhar esgazeado, lábios entreabertos, sugerindo “vem...” na direção do brimo. O pintinho de Zezinho bota ovo amarelinho. Se lembra vagamente que veio ao mundo para fazer suruba c’uma presidenta e um politicão procurado no mundo inteiro. De repente a geringonça engrena. Sofre uma série de espasmos. Parece querer cuspir. Cresce como o pão de mandioca que vovó Benedita fazia quando ele era petiz, só que em câmara ultrarrápida.
O pintanaço do garoto se estende em todo seu esplendor de superferramenta procriadora.
Oito metros e trinta, pra ser exato! exclama excitado o negão. Ato contínuo, empurra o banquinho pra debaixo da estrovenga para fins de suporte.
Não vá gozar ainda! pede o gênio da cola. Estou sem meu guarda-chuva e minhas galochas, hehehe.
Nisso, ocorre a Zezinho que precisa ir para casa antes que sua mãe dê por falta dele e acabe telefonando pro Conselho Tutelar. Já ameaçaram – na próxima em que for flagrado cheirando, é Fundação Casa sem choro nem vela nem coroa de flores.
Cara, como é que faço pra andar com esta sucuri no meio das pernas? Ele se esforça para erguer o pintolão, debalde. A budega permanece imóvel.
Tem razão. Ia me esquecendo.
Plim-plim-plim-plim-plim.
Uma caixinha se faz presente na palma de uma das mãos do gênio. Tem toda a pinta de ser um daqueles genéricos da farmácia.
Quando não quiser mais o colosso endurecido a pleno tamanho e vigor, basta tomar uma drágea destas.
Dizendo assim, o negão entrega a caixinha ao pequeno felizardo que teve seu desejo realizado. Em sua outra mão surge um copo cheio até a metade. Ao que tudo indica é vodka. O menino tira um comprimido duma cartela, apanha o copo e glupt, engole o antídoto. Imediatamente a hiperpistola desinfla, desaparecendo entre as pernas de Zezinho.
Ele ergue a cabeça. Vê o gênio se revaporizando e entrando de volta na lata de cola.
Satisfeito, Zezinho guarda a lata na mochila, apanha seu novo banquinho e, enquanto caminha para fora do beco, deflagra uma pedrinha.
Quando se aproxima do cortiço onde mora, num bairro formado quase todo por galpões industriais abandonados à margem da ferrovia da CPTM lá pros lados da Mooca, dá c’uma aglomeração de gente aos puxões e empurrões diante do portão de casa. A rua está atopetada de carros, peruas e furgões de equipes de tevê, rádio e internet. Fotógrafos e cinegrafistas correm para lá e para cá tentando ocupar uma posição estratégica com vista ao interior do quintal da vila. O burburinho é formado por gente de todas as classes e de todos os tipos. Os mais próximos do portão são os vizinhos, em sua maioria olhando para as câmeras de tevê e se dizendo amigos de Zezinho.
Conheço ele desde pequenininho.
Ele sempre me paga uma branquinha no buteco do Tonhão.
Assistimos o show da xuxa todas as tardes.
Um dos maiores grupos é constituído por homens de preto, caras amarradas, olhares austeros, certamente pastores evangélicos dispostos a atrair nosso pequeno príncipe pintudo para suas facções religiosas.
Por uns momentos se faz uma pausa geral na afobação: a porta do furgão da Globo se abre e por ela desce a grande dama da mídia nacional Fátima Bernardes, envergando uma camiseta da Seara onde se vê uma enorme linguiça para feijoada. Na certa, Fátima agora quer o patrocínio de Zezinho. Assim que a perua-propaganda pousa as botonas na calçada, de outro furgão salta um bando de marmanjos vestindo camisetas da Perdigão. No ato a equipe da Sadia parte para cima da concorrência, tentando barrar sua passagem rumo à entrada do cortiço. Desamparada, Fátima põe-se a berrar “William, socorro!” mas Bonner não escuta – ou faz que não – pois está no ar para, ao lado da Patrícia que é poeta só no nome (como a maioria dos “poetas” brasileiros, diga-se), dar uma empolgante nova, a saber, os japoneses acabaram de inventar um time de robozinhos que jogam melhor que a seleção da Filipona.
Num ponto mais remoto da turba a fauna de pessoas vai se mostrando deveras mirabolante. Todos trajam camisetas mas as vermelhas ganham em número e veemência reivindicatória. Entre estes, o mais exaltado é um sujeito de cara e sorrisinho apalermado de quem nunca revela o que está realmente pensando. Sim, é ele – Guilherme Boulos, o mais recente salvador surgido do nada para, pela milionésima vez, tentar realimentar a chama do esquerdismo eternamente natimorto.
Perto do grupo pode-se avistar de longe Fernando Haddad e sua cara de quem abriga no espírito o brilho duma inteligência agudíssima, ladeado por seu fiel escudeiro Jilmar Tatto e seu geitão (sic) de cangaceiro urbano. Naturalmente vieram convidar o nosso pequeno superdotado para comandar a operação das lotações, uma das mais lucrativas atividades ilegais da cidade.
Previsivelmente, a apenas alguns passos do prefeito, estão Eduardo e Marta Suplicy – ele com a tradicional cueca do super-homem que lhe deu a merecida reputação de incansável algoz da bandidagem no Estado, ela, mãe de todas as peruas, cintilante num ultrachiquérrimo modelito de Pedro Lourenço, aquele estilista que papou 3 pilas sob patrocínio do Ministério da Cultura para mostrar as glórias da moda tupiniquim em Paris. Como não poderia deixar de ser, a ministra ostenta um chapelão de dar água na boca às madames que frequentam o falido Jóquei de Sampa, que a turma da pesada do retrorreferido Boulos muito em breve transformará em mais um assentamento de barracas vazias. O que os genitores do prodígio Supla querem com o nosso Zezinho, só deus sabe.
Nas franjas da multidão acham-se os indefectíveis caçadores de atrações e aberrações para seus respectivos negócios. São casais de gays aflitos por adotar o moleque-sensação por razões estritamente paternais, jurando que não estão interessados nos dotes anatômicos do pimpolho. Há ainda donos de circos, gerentes de zoológicos, proprietários de haras sempre em busca de bons reprodutores para suas éguas milionárias, advogados eternamente atrás de inusitadas emoções, jornalistas da Folha de São Paulo sempre a farejar qualquer indício de qualquer coisa que possam converter em factoide ou, deus-nos-ouça, um daqueles escândalos em que são mestres em elevar o jornal – e não a notícia – às luzes da ribalta.
Enquanto a massa afoita briga para ter acesso ao muquifo onde mora a família de Zezinho, na rua furgões e camionetes da mídia abrem espaço para que um veículo recém-chegado estacione. Trata-se duma limusine mais negra que máscara de black bloc. A bicha vem deslizando silenciosa feito onça antenada no pouso do pintassilgo, luzidia e resplandecente de dar água na boca no mais endinheirado caipira já nascido entre os herdeiros do petróleo do Texas.
A limo estaciona exatamente defronte ao portão do pardieiro.
Um murmúrio de pronto se espalha no seio do povaréu e um espesso silêncio se estabelece no fim da tarde de inverno. Todos se voltam para o carrão. Cada peito retém a respiração. Quem será tão magnífico, tão ilustre, tão majestoso visitante?
A porta do motorista se abre e o sujeito que está atrás do volante do suntuoso automóvel salta para a rua. Dá vagarosa volta até uma das portas traseiras do veículo e a abre.
Um figurão de digníssimo ar desce e se empertiga na calçada. É ninguém menos que o sinistro e intrépido presidente do Partido com seu carão de capacho de Stálin. O homem dá um passo para o lado, abrindo espaço na calçada.
Um outro ocupante do carrão bota a carona para fora. É um descendente asiático de semblante sombrio, assustador, ominoso qual um chefe quadrilheiro. Os jornalistas presentes de imediato reconhecem o administrador dum renomado aparelho de bandoleiros. O suspense vai se tornando mais e mais pesado. Como nas narrações do Galvão Bueno, o tempo passa. As pessoas mais próximas começam a cochichar. Aparentemente não há mais ninguém dentro da limo – embora o motorista continue imóvel mantendo a porta aberta.
Será...?
Sim. Será!
Escuta-se uma tossida. Na sequência, um resmungo. Em seguida, um palavrão. E finalmente um arroto de humilhar britadeira da Sabesp.
Uma perna desponta para fora. O silêncio torna a se impor. A expectativa cresce.
Passam-se mais uns segundos e o último ocupante da limusine surge na plenitude de sua trôpega glória. Todos arregalam os olhos, erguem as sobrancelhas, abrem a boca para the Boss, il Capo di Tutti i Capi, o Gostosão, das Grosse Tier, le Gros Bonnet, the Bigwig, the Big Shot...
...o Garganta Profunda!
Os homens e mulheres da imprensa partem na direção do recém-chegado, os da Folha, naturalmente, à frente, microfones em riste, câmaras à toda, sedentos de novidades.
Prê! Prê! Que é que ocê veio fazer aqui?
O asiático sinistro dá um passo à frente, protegendo o Mandachuva, e erguendo os braços.
Calma, pessoal! Deixem o Prê respirar!
Como se a frase fosse uma deixa, o motorista abre o porta-malas do carrão e retira uma enorme caixa plástica. Leva a caixa até a calçada, puxa umas alavancas, pressiona uns botões e vupt! O troço se transforma num conveniente e confortável palanque portátil.
Embora aparentemente grogue, o sujeito recém saído da limusine monta no palanque em dois ligeiros saltos e, como se sua vida dependesse disso, empunha sofregamente o microfone que já estava à sua espera. Parece não dar lá muita importância ao assédio geral. Está, obviamente, acostumado. É inegável o traquejo com que manipula a multidão. Se seu saco esticasse toda vez que os sicofantas o puxam, na certa estaria rivalizando em comprimento com o pintolaço do próprio Zezinho.
O Linguarudo Sedento tem os glóbulos injetados, não se sabe se pela emoção ou por causas outras concernentes ao espírito. As pálpebras tendem a cair. Ele parece estar com sono. Mas as pupilas nos olhinhos estreitos e faiscantes brilham assim que avistam a plebe à espera das palavras que em segundos começarão a jorrar destrambelhadas de sua bocarra falastrona.
Afetando aquele arzão misto de Salvador da Pátria e Justiceiro Feroz que é familiar a todos seus devotos, o Timoneiro Zangado bota pra quebrar:
Cumpanheros! Agora a elite deste país vai ver com quantos paus se arromba uma bundinha branca perfumada a talco francês! E voceis tudo sabe com quantos paus se arromba uma bundinha branca perfumada a talco francês?
Ao escutar tão inspiradora pergunta, Fernando Rodrigues não resiste: vira os olhinhos e desfalece, sendo acudido por uma equipe de editores da Folha. Ato contínuo, recebe dezenas de postagens tanto favoráveis quanto condenatórias dos leitores semiletrados que comentam as notícias do website folheano.
O populacho entra em comoção.
Já ganhou! Já ganhou! Já ganhou! Já ganhou!
No que é acompanhado por grande parte dos profissionais da imprensa.
Batendo no peito feito um tarzã com a macaca, o Iracundo Office-Boy dos Empreiteiros exige:
Tragam o pai do baitolinha à minha presença!
Como é patente, o genitor de Zezinho já ocupava a primeira fila diante do palanque e ninguém precisou ir buscá-lo.
Vem! comanda o Metamorfose Tagarelante, convocando o homem para ficar ao seu lado em cima do palanque.
Cumpanhero! Hoje é uma grande data para os trabalhador deste país! Os trabalhador deste país tudo quer o vosso filho na Presidência deste país! Prurisso cumpanhero, os trabalhador deste país tudo quer saber: nóis temo a vossa permissão pro Zezinho de ser candidato pelo Partido?
A patuleia entra em convulsão! Mais: cai em delírio! Pior: se rende ao frenesi! A fria tarde invernal é tomada de uivos e guinchos alucinados. Aqui e ali no meio da turba um militonto desmaia de emoção.
O Guia Palavroso esmurra o ar, zoinho fuzilante, peito arfador.
Cumpanheros! Desta veiz a direita deste país vai levá o que merece!
Nisso, nosso perfunctório Zezinho, sempre distraído com sua lata de cola, dobra a esquina sem se dar conta do azáfama defronte o cortiço.
A massa humana, porém, não perdoa: se dá imediatamente conta da presença do Fenômeno Anatômico.
Fernando Rodrigues é o primeiro a alcançar o moleque e, disfarçadamente, enfia um cartão de visitas no bolso da camisa de Zezinho enquanto mumunha algo como “Me liga qualquer hora...”
Em segundos o garoto se vê cercado de todo tipo de gente estapafúrdia. O Asiático Mafioso vem abrindo caminho na direção do pequeno herói, empurrando e socando os mais recalcitrantes à sua frente.
Abram alas! O prê quer ver o menino. Saiam da frente!
Ele agarra Zezinho pela pescoço e o arrasta na direção do palanque portátil. Sobe os dois degraus e larga o moleque diante do Mutante Eloquente.
O Lacaio dos Banqueiros puxa Zezinho por um braço e desanda a esgoelar:
Nosso próximo presidente! Nosso próximo presidente!
O público apupa desvairado.
Zezinho! Zezinho! Zezinho!
Chegou a hora de nóis botar no rabo da elite branca deste país! emenda o Odiento Ululante. E sabe que é que nóis vai botar no rabo da elite branca deste país?
O quê? O quê? O quê? não perdoa a claque histérica.
O que nóis vai botar no rabo da elite branca deste país é mais um poste!
O poste! Isso aí! Bota mais um poste!
E oceis sabe de quem é o poste que nóis vai botar no rabo da elite branca deste país?
Do Zezinho! É do Zezinho! Só poder ser do Zezinho!
Então o Pai do Ronaldinho Que Era Monitor de Zoo e Virou Um Dos Maiores Empresários do País ergue os braços. Pede calma. E se dirige ao genitor do pintoludo:
Pai! Ocê pode de ficar tranquilo. Quando nóis eleger vosso rebento presidente, nóis vai cuidar dele com carinho.
Palmas, assobios, ovação.
Se ele precisar operar da fimose, num importa o tamanho da parada, nóis leva ele no Sistema Sírio-Libanês.
Ovação, assobios, palmas.
Se ele precisar dum quartinho maior pra guardar sua ferramenta, nóis manda construir uma casa pra família na Vila Carrão.
E quando chegar a hora dele perder a virgindade, num se preocupa não pai! Nóis manda fazer uma superbucetona na Califórnia e traz aqui pro Zezinho descabaçar!
O tresvario toma conta da multidão. Até Fernando Rodrigues se deixa fascinar pela imagem mental sugerida. Uma superbucetona cabeluda, com grandes lábios extragrandes, um clitão mastodôntico, um abrigo que dava até pra morar...
Nesse momento Zezinho parece despertar da letargia química. Tenta levar a lata de cola ao nariz para mais um cheiro mas sente o braço preso. Olha para o lado e dá cum sujeito de ar tresloucado que o segura pelo pulso. Algo se mexe e remexe no fundo de sua memória. Já viu esse pançudo bocudo em algum lugar. Sim! Esse cara é um político!
O pintinho de Zezinho prontamente se acende ante a evocação libidinosa. Como vocês amiguinhos amofinados e amiguinhas suculentas se lembram, nosso bocozinho tem predileção por essa raça de safados que se dedicam a espoliar o Erário em nosso nome.
De repente o Membrão Tremendão, atiçado pelo estímulo do mundo, como nas palavras do gênio-negão, se faz presente no palco da tarde que morre.
O Poste! O Poste! Viva o Poste!
A galera cai em polvorosa. Só pode ser milagre! O Poste veio para salvar os destituídos, os analfabetos, os sem-vergonha, os vagabundos, os funcionários públicos das garras da Direitona Sanguinária.
Viva o Poste! Viva o Poste Redentor!
O Superpossante vai pulsando cada vez mais tesudo. Parece prestes a explodir.
Louco de tesão, Zezinho agarra o prê pelos cabelos, puxa a cabeça do sujeito para baixo e mete o Poste na Bocarra Desembestada até o talo taludo taladudo. Ao que tudo indica, o Pênis Descomunal finalmente encontrou seu habitat natural.



Um comentário:

  1. Bravo. Bravo. Bravo. Texto além de supimpa, sobejo por si só, ele está extraordinariamente adequado à celebração desta data apoteótica de 06/04/2018. Obrigada Wil Poeta !

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