E lá se vai a orkut

Tchau, orkut. Foram bons anos por aqui na presença da Arzêrea Kaskuda, do Zé Patusko, do Vampiriro de Diadema, do Cagolim, o mais obsessivo, e pour cause, persistente fake do pedaço, e tantos outros que não lograram marcar a ferro e fogo suas gloriosas existências em minha sempre enevoada e ao mesmo romântica memória, a que dou graças aos céus por não ter sido brindado cuma daquelas super à la Marcel.
E só pude, obviamente, resistir a tantos medíocres e pascácios cibernéticos pela providencial intervenção da minha fiel amiga igualmente computativa Suely. Sem ela não teria encontrado forças para ferir de morte a comu Literatura com a letalidade com que o fiz iz izzzzz. Lamento que a orkut se encerre antes que a comu -- queria ver até onde levaria esta irreverência infernal que o demônio me presenteou para se vingar desse deus inexistente aí de vonceis todos.
Como já tive oportunidade de consignar (e aproveito para agradecer a meu pai e a vizinha três casas subindo à esquerda por terem engendrado aquele punhado de rendez-vous sob o qual fui gerado, pai, vizinha, este óscar vai pra vonceis, queridos, beijos), sou um birrento filho da mãe e só dou arrego quando avisto meu inimigo tombado à minha frente suplicando água, consolo e essas porcarias que os vencidos suplicam. Agora vou largar uma que vocês de certo haverão de cair de costas, segurem-se: lula está certo. Este país é um faroeste e o será ainda por alguns séculos e o nosso dileto garanhuense 9-dedos acertou ao entrar de sola de couro nos arremedos de instituições que desde 1500 vimos fingindo imitar dos franceses. Eu, tão filho-da-puta fosse, provavelmente faria o mesmo. Lula simplesmente se mostrou mais espertalhaço que nossos coronéis tradicionais. Sarney e respectivo clã dominou nada mais que o Maranhão. Collor e família e Renan e rebanho, Alagoas. Marina, o Acre. Campos, Pernambuco. Aécio, Minas. Zé Dirceu e Delúbio, a Papuda. Lula, o Brasilzão de cabo a rabo. Meu problema é que sou meio afrescalhado à la intelecas da Sorbonne e não lido legal com o poder, caso contrário podia estar neste exato momento sentado no colo do Cid Gomes descolando um ingresso pra final da copa entre meus ídolos germânicos e a ralé do mundo a quem damos o nome de argentinos.
E eis que a orkut se vai pra sempre e duvido que outra orkut possa existir algum dia que se assemelhe-lha. Sei que soa assoberbante, mas fóruns como este já estão ultrapassados. Não que tenham sido grande coisa um dia -- os habitués por aqui eram do naipe dos supracitados arzêreos, patuskos, vampiriros e cagolins poltrões, que inoculavam nos "debates" o vírus mortal da pretensiosidade brasílica e a consequente indigência intelectual sob cuja sombra mórbida qualquer promanação haveria de perecer --, mas ainda havia algum élan voltado para a troca de, hmmm, ideias. (E pensar que foi há apenas 2 ou 3 anos, cáspite, que fantásticos estes tempos.)
Parece que debater está totalmente fora de questão hoje em dia. ("Hoje em dia" agora se refere a um período de meses, mesmo semanas.)
O face impôs de vez o social networking e não tem escapatória e a interconectividade instantânea parece que se tornou a razão de viver de meio mundo. A dita já se prenunciava na época áurea da orkut, mas hoje é simplesmente irresistível. Ninguém mais quer saber o que o outro pensa -- se preocupa apenas em curtir e ser curtido. Miseravelmente, esse estado binário inefavelmente tacanho vem resolvendo o babado dos facebookienses. E a interconectividade está apenas em seu prelúdio. Tremo e temo só de pensar o que aguarda a raça aí adiante. Não duvido que estamos com o pé na porta duma era ainda mais trágica, por inacreditável que possa parecer. E palavrórios deste tipo já estão tão batidos, não é mesmo? Continuo no assunto só porque tento esconjurá-lo falando dele. Não vai funcionar, estou ciente. Mas escrever é isso. Escritor não tem lá muitas opções de atuação.
Falando em escritores, me dá alguma amargura lembrar de quanta gente veio bater ponto nesta malfadada comu com o fito de anunciar seu blog. Eu mesmo filo porque quilo algumas vezes. Até descobrir que era mais inútil que curso de linguística. Se abriram inúmeros tópicos de anúncio de blogs por aqui, cada qual com centenas e até milhares de anunciantes. O resultado sempre era menos que pífio, sabem-no todos que passaram pela "experiência". Sobretudo porque, de novo, internautas só se interessam pela maldita interconectividade. Ler é uma atividade pessoal e solitária, não envolve terceiros, não suscita ações e reações, não dá aquele friozinho no estômago como uma postada de cunho pessoal. Por isso mesmo as comus mais populares eram as consideradas frívolas. "Sérias" como a Literatura estavam fadadas ao olvido.
Até que fiz uma descoberta -- a única forma de atrair leitores para o meu blog era zoando. Depois que comecei a ter piripaque e fazer provocação e palhaçada e escarcéu, venho atraindo uma média de cinco deles a cada dia. Mas não se animem ainda. Não são cinco "leitores" -- mas apenas curiosos. Como disse acima, hoje em dia ninguém tá muito a fim de ler. (E olha que meu blog é de extraordinária qualidade literária, um dos melhores que conheço na rede.)
Tudo me leva a crer que haverá cada vez menos leitores no mundo. Leitores de blogs, então, pode esquecer. Se você quer ser lido, publique. Mas publicar é apenas o primeiro passo, e o menos importante. O que importa mesmo é saber "agitar". Agitar pode dar certo mesmo com blogs. Tem uns por aí com cinco, dez mil "seguidores". Nesses, ao que parece, há alguma vida. O meu, por seu turno, conta com 115. Nem eu mesmo sei como consegui "tantos". Desses 115, poucos me leem amiúde. Os blogueiros com milhares de seguidores fazem, também parece, um trabalho diuturno de promoção. Não conheço bem o esquema, mas imagino que vivam no face e em outras redes sociais xavecando. Pra que, nem imagino. O máximo que você pode conseguir assim é que a Mariazinha entre numa postagem sua e deixe lá registrado "Ai, Fulano, que lindinho o seu textinho!" E você, claro, faz o mesmo em troca. Eis o que se pode atingir em interconectividade em se tratando de blogs. Talvez no fim do dia os envolvidos, fatigados, exalem o ar dos pulmões e se autocongratulem em pensamento, uau! Não é fácil cometer literatura!
No frigir dos ovos, a noção de mérito foi pras picas. Todo mundo e seu tabelião tem acesso a um "espaço" no qual escrever e não se avexa em deitar falação mesmo nunca tendo lido uma linhazinha de Machado. Devem haver dezenas de milhões de blogs "literários" a flutuar pela internet. Como saber quais vale a pena ler? Impossível, pois é. Nietzsche pagava a publicação de seus livros do próprio bolso. Joyce, Orwell, Faulkner, Nabokov, Sylvia Plath, Kerouac e muitos outros foram recusados mais de uma vez por editores. O provérbio da agulha no palheiro não daria pro cheiro.
Quanto a mim, escrevo em primeiro lugar para mim mesmo. É esta a maior força por trás da minha escrita. Sou o único tema que me interessa. Se quiserem me ler, ótimo. Se não, ótimo também. Não vejo a mínima graça em ser lido por quem  é incapaz de apreciar minhas palavras.