Quem diria que haveria relembragem neste julho de secura torrencial?

Hienas atacam em bando. Quando sozinhas, fogem com os rabos entre as pernas.
Hienas são criaturas covardes por natureza.
Hienas são assustadiças.  Vêm, dão uma mordidinha e saem correndo para debaixo do seu low profile. Em sua tibieza, não usam sequer as próprias palavras. Preferem recorrer a citações. Ou então a reticências. Como todos sabemos, reticências são o refúgio silencioso dos covardes.
Hienas mantêm um low profile pois assim nunca se expõem, naturalmente. São tão corajosas, que até se aproveitam da carniça deixada por predadores terceiros.
Hienas só abrem a boca para devorar (três pontinhos) o que foi enjeitado por outros. Se amarram em pegar carona na vida alheia. Assim fica bem mais fácil de atacar sem o perigo do contra-ataque. Quem mandou ser tonho a ponto de abrir a boca sem ser chamado? O lema das hienas é: Não me comprometa. Deixa que os outros metam as caras. Esses são bobinhos. O mundo é feito de bobinhos. O mundo não é dos bobinhos.
Isso tudo soa tão familiar, não soa? Vejo hienas. Vejo hienas em todo lugar. Vejo hienas em todo lugar a que vou. Hienas constituem a maioria esmagada da humanidade. São bilhões delas, são bilhões de hienas espertalhonas que, muito espertamente, optam por ficar o tempo todo na tocaia, aguardando os idiotas que ousam erguer a cabeça acima do rebanho.
Só não vejo mesmo hienas é na grande literatura. Qual grande escritor você poderia qualificar de hiena? A mim não me ocorre nenhum. Pois o que faz dum grande escritor exatamente o oposto duma hiena? Isso mesmo – a consciência da própria solidão. A certeza da própria individualidade. Por isso ele, o escritor digno do nome, se faz um combatente de moinhos. Um demolidor das fachadas mambembes ao seu redor, que o sufocam. Um estridente, irritante desafinado bem no meio do coro dos contentes.
Hienas não quebram o protocolo. Hienas não infringem a etiqueta do comportamento típico do brasileiro. Hienas não fodem com o ritual do beija-mão. Hienas não saem do compasso na eterna dança do puxassaquismo mútuo que impera em antros como a Academia Makakita de Letras. O que importa para as hienas e seus congêneres é exibir o fardão para a foto. Mamãe, olha eu aqui fazendo literatice! Hienas se nutrem de muito compadrio – se deparam com literatura, enfiam o rabo entre as pernas. Chafurdam no imorredouro teatro das aparências. Hienas espelham o circo do Congresso Nacional em que os calhordas se tratam de Va. Exa. (Enquanto a plateia que chia sempre acaba votando nos safados. Também rings a bell, doen't it?)
Peço às hienas que não tomem zanga de mim por ser um humilde arranjador de garranchos. Reconheço, admito, confesso: as hienas são minhas mestras.
Meia culpa, Hies. Podem continuar a imperar neste mundo. Em meu mundo. Já me acostumei. Quem dá bola? O que interessa é que vocês guincham e todos lá fora pensam – ou fingem pensar – que escutam rouxinóis. Tudo aquilo por que lutamos, sofremos e lutamos é absolutamente secundário.



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