Sou poeta

Sou poeta
Dragão na masmorra
A sonhar com donzelas
Delirar com
Ratazanas
Pertenço aos que não
Pertencem, e se disserem
Que não lhes pertenço,
Posso bem responder
Que não pertenço a
Ninguém e não
Estarei livre

Sou poeta e
Minha poesia
Prolifera pelos
Canais de esgoto
Que não conduzem
Água ou fezes e
Passado um segundo
O milhão que era
Passa a ser nada

Sou poeta
Te garanto
Você não ia querer estar na minha pele
Sou poeta
Prisioneiro
Da minha poesia
Prisioneira do
Que sou

Sou poeta
Sou poeta!
Canto quando
Quero, choro
Quando espero

Sou o campeão
Dos paradoxos
Se apelo à razão
Caio em contradição

Para o cidadão
Comum, o homem do
Povo, o operário
Padrão, a enfermeira
Relapsa que ajudou
A matar um paciente
Ontem à noite,
Nunca poderei ser
Nada

Exceto imperceptível
Eco a reverberar nas
Rochas o grito disparado
Por meu pai e que
Não quis escutar

Sou poeta e
Quando ando pelas
Ruas ninguém me
Vê. Será, talvez, que
Só vejam seus pares
Ou iguais?

Nunca, não,
Nunca imaginei
Que um dia
Desandaria
A bradar em alto
E bom som e
A plenos pulmões
Ó mundo! Sou
Poeta!
E nunca, não,
Nunca pensei
Que um dia
Estaria tão empolgado
Em anunciar ao
Mundo que, sim!
Sou poeta

E neste instante
Que é meu
Instante posso
Afirmar que
Morreria feliz
Sendo poeta

Posso voltar ou
Seguir em frente
Ao meu bel prazer
E o prazer é tudo
Que peço que me
Reste

E, se voltar, não
Pense que morrerei
Sem ar neste meu
Mundo irrisório
Meu mundo pode,
Sim, ser irrisório,
Mas meu mundo
Não é irrisório

Sou poeta e não
Tenho um mapa
E, sendo poeta,
Podia passar o
Resto dos meus
Dias explicando
Por que careço
De explicações

Avanço pela rua
Ninguém sabe
O que sou
Sou?
Sou. Pois avanço
Pela rua e quem
Avança pela rua
Por esta rua
Neste exato
Momento...

Podia prosseguir
Ao eterno, você
Sabe.
Quer me acompanhar?
Não te prometo nada.
Posso dar. Posso
Tirar.
Você não tem coragem.
Não te culpo.
Você não é poeta.
Eu, sim. Posso
Tudo. Tenho o
Controle da máquina
Do tempo aqui na
Minha mão.


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