Sonho sem rastros

(nem adjetivos, reticências, pontuação, memória e tempo)


Para Suely
Das minhas leitoras
A mais assídua
Irrimável
Personal Cheering Agent


Tenho notado uma coisa em mim mesmo – um desânimo cada vez mais frequente.
Um desânimo com este meu blog que aos olhos alheios de certo assoma excessivo, abusado, rocambolesco, talvez picaresco e patético.
E aos meus – dos quais não sou nem dono –, pequeno e incompleto, de certo como eu mesmo.
Duvido de mim – duvido de mim tantas vezes.
Duvido do que faço e do que sou.
Mais que tudo, duvido do que escrevo.
Duvido tanto de mim, que tantas vezes me pergunto se é para me convencer de mim mesmo que tanto escrevo.
Ao longo dum dia, duma tarde, duma hora, dum minuto me encho dessa minha preguiça do mundo e da vida.
Ao longo dum instante a vida e o mundo se enchem de enorme preguiça de mim.
E essa preguiça enorme me faz querer dormir tão profundamente, tão eternamente, que nenhum sonho me enlevaria, nenhum pensamento me acordaria.
Mesmo que no sonho me abandono e me afasto para uma terra impensável e me esqueço.
Quando os olhos reabro, ainda existo.
E ergo um brinde à impossibilidade de não ser o que não sou.