Faltam
cinco minutos para as seis da tarde. Venho correndo escrever antes de acordar. Estou
cansado do que escrevo acordado. O que fazemos acordados não presta pra nada.
Me
perguntam “cadê aquelas suas
brincadeiras?”
Foi
em sonho, obviamente. Ninguém faz esse tipo de pergunta durante a vigília.
Dormindo,
tenho um conhecimento – o de que minhas brincadeiras foram enterradas com meu
pai. Meu pai era brincalhão. Ninguém ria das brincadeiras dele, nem eu. Só adulto
vim a entendê-las, pois eram as mesmas que, adulto, comecei a fazer. Agora vejo
que ninguém entende minhas brincadeiras. Só riem quando falo sério.
É
apenas uma das minhas tragédias. Minhas tragédias engraçadas. (Não confundir etc.)
De
repente ela aparece na minha frente. De onde terá vindo?
Dobrou
aquela esquina?
Desceu
daquele ônibus?
Não
sei donde veio mas sei aonde vai.
Essa
cara não me engana.
Vai
direto pra casa e, uma vez lá dentro, direto pro quarto.
Então
se sentará diante da penteadeira e apanhará a escova e passará algumas vezes no
cabelo enquanto se mira no espelho com alguma impaciência.
Essa
cara é de auto-empáfia, conheço bem.
Uma
vez escovado o cabelo, retocará o rouge cum pequeno pincel tirado da primeira
gaveta da penteadeira.
Ao
passar por mim, me lança um olhar ligeiro e perturbadoramente intenso.
Terá
descoberto meu segredo?
Mas
como, se não tenho segredo?
Hoje,
enquanto varria o quarto, uma aranha passou rente ao corrimão. Procurava um
abrigo longe da minha vassoura. Mancava. Ou melhor, claudicava. Senti o estômago
pesado. Me detesto quando firo uma aranha. Sou um desastrado. Fechei os olhos e
me pus a ponderar – devo esmagá-la para acabar de vez com seu sofrimento ou
deixar que prossiga vivendo tentando uma recuperação? A indecisão durou alguns
segundos. Quando reabri os olhos a aranha tinha sumido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário