Mon coeur, me espreguiço esta noite de
quarta, 13 de agosto, livre do teu abraço viscoso de lesma voraz sem fome.
Olha!
Podia me contentar com essa frase carregada
de sombras e murmúrios e vírus, mas, você sabe, não posso me limitar às minhas
palavras.
Ou às suas.
Quais foram, mesmo?
Que lástima que sejamos incapazes de
prestar atenção no mundo, não é?
Não damos conta sequer do que ocorre à
nossa volta.
Sequer do que ocorre com quem amamos.
Ah, será esta uma indicação do amor que não
sabemos por quem sentimos?
Amar sem saber a quem.
Ah, mon coeur, sei muito bem por quem
teus olhos brilham.
Sei muito bem por que tua buceta umedece.
Estou num campo de margaridas quando amo.
Arrancando e atirando pétalas à minha
volta narcisicamente.
O curso do tempo projeta sombras ao redor
para recompor o mundo em seguida e os vivos estão mortos e os mortos estão
vivos.
Todas essas décadas eivadas de minutos e
horas e ainda não me decidi se quero ser imortal.
Caminho cabisbaixo até a cozinha, abraço
Sô por trás e um pensamento de autossuficiência me alivia a angústia por um
instante e me dissolvo num mundo de todas as dimensões sem dimensão.
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