Existem os que se preocupam – e se
interessam – em manter em pé a ponte colossal. Cuja ereção foi iniciada por Homero.
Outros apareceram para continuar o trabalho pioneiro. A ponte, hoje com três
espetaculares milênios, atingiu o presente. E, apesar de todos os desengenheiros,
os indiferentes, os sabotadores, haverá de prosseguir até o fim dos tempos.
Os não-indiferentes, os que se interessam
em manter em pé e levar avante a mais colossal obra já construída pela
necessidade de elevação e pela dor do homem, exigem algo que soa razoável: que
os poetas tenham vergonha na cara. Mais: que evitem lavar roupa suja em
público. É feio, dizem, é feio se desnudar aos olhos de estranhos. Para Harold
Bloom, entre os maiores sustentadores da maravilha na atualidade, a confissão
“pessoal” do poeta é constrangedora mesmo.
Também acho. E me dou por feliz por ter conseguido
perpetrar dois parágrafos inteiros sem apelar à primeira pessoa do presente do
indicativo. Para alguém que tem a veleidade de contribuir com os grandes homens
com pedrinhas toscas e desbotadas, não deixa de ser uma peripécia. Se meu
trabalho tivesse algum quilate, ia correndo dar uma força a Bloom e George
Steiner que estão lá fazendo o diabo para impedir que as pilastras de sustentação
soçobrem. Vejam que até resolvi apelar a anacronismos.
Mas é só hoje. Amanhã volto a ser eu. Isto
é, espero.
Que não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário