A poesia, a poesia verdadeira, é imbatível,
é inatacável, insubmersível, intragável. É a poesia, a poesia verdadeira, a
poesia que os homens e mulheres lá fora que agora saem das estações do metrô
teriam um ataque do coração se de repente compreendessem.
A poesia, a verdadeira poesia, é insuportável.
Fazem bem as meninas que se dedicam ao estudo da computação em jamais aventurar
seus olhares mortiços sobre a placa-sanduíche sustentada pelo molambeiro
desdentado a anunciar em versos sublimes e cifrados que alguém algures nas
proximidades da Praça da Sé compra ouro, pagando à vista.
Fizeram bem os cavalheiros que foram
capazes de morrer de coração e mente virgens do estupro poético e caridosamente
incônscios de que as dores atrozes que suportaram em vida seriam
insuportavelmente atrozes se ritmicamente deploradas em rima.
E fazem melhor ainda os lampeiros
fagueiros blogueiros a alimentar com suas toscas pás de crentes em santinhos de
igreja a fornalha de seus blogs poéticos com o carvão da poética rançosa que nunca
arderá em brasa para calcinar suas mãozinhas frágeis em garras selvagens e
incinerar suas pupilas sonhadoras para que na cegueira possa faiscar a chama rubra
do sentido.
Ainda vivia
e me sentei ali sob o sol, deprimido demais para saborear minha melancolia. Estava
usando uma coroa de papelão. E segurava um cetro c’uma estrela na ponta.
Sim, abençoados os isentos deste poema de
Frederick Seidel como se esquecidos pela receita federal.
Agora vejo por que os poetas, os poetas
verdadeiros, são tão escassos.
Os poetas, os verdadeiros, não nascem
para aprender ou ensinar, olhar no espelho e se pentear.
Cada poema, se verdadeiro, é uma ponte de
aço alicerçada no ar, levando ao inexistente que existe.
Um passo de Antonio Machado no caminho que
se faz ao andar.
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