O voo

Na Barsa de 1966 de papai tinha essa pintura dum espanhol retratando uma ave em traços tão espessos, tão pródigos, que a tinta em excesso escorria livremente, em solene indiferença aos caminhos que pudesse trilhar na tela, e fiquei deslumbrado em meus onze anos com a ousadia do pintor – meus professores no liceu digno de Raul Pompéia na certa teriam uma síncope ante tamanho desprezo pela regra e meus olhinhos adolescentes brilharam impunes por mais uns anos.
Até você me deixar.
Na noite desesperada peguei um pincel e uma lata de tinta azulada e desenhei uma ave na parede da garagem.
E na semana seguinte recobri minha obra c’uma tinta pastel que sobrara d’outros carnavais.

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