A empregada ou: mais um momento Verissimo

Juliana não aguenta mais.
A empregada nunca foi lá muito eficiente mas nos últimos tempos a coisa vem escapando totalmente ao controle. Faz semanas que Juliana, deparando uma, duas, três, quatro vezes ao dia com as trapalhadas de Iracema, rosna a si mesma: “Hoje mando essa desleixada passear!”
No começo rosnava com raiva mas baixinho, cuidando para que a empregada não escutasse. Nos últimos dias, porém, não tem dado lá muita consideração a como a moça possa reagir.
Até que, como não poderia deixar de ser, chega o dia fatídico – Iracema deixa pingar a gota d'água no caldo e este, como deve estar óbvio, entorna de vez.
Juliana tira uma blusa de... do guarda-roupa e lá está: uma mancha do ferro de passar bem no meio das costas. Tinha custado uma nota preta na loja da Jussara, sua ex-colega da faculdade de psicologia.
(Pensando no assunto agora, que coincidência nenhuma da turma ter seguido a carreira. Juliana morde o lábio, ressabiada. Bem que lhe tinham recomendado que cursasse nutrição...)
— Iraceeeeeema! — esgoela, sem pensar duas vezes.
Como a empregada demora a responder, sai pelo apartamento à procura dela. Depois de procurar na cozinha e na área de serviço, a encontra em seu quarto, escutando sertanojo universitário.
Avança com o braço segurando a blusa queimada. Tem gana de esfregar na cara da folgada.
Iracema faz que não é com ela.
Juliana pensa notar um ar de deboche na indiferença da outra.
Perde definitivamente a paciência.
— Pega sua trouxa e dá o fora daqui! Agora mesmo!
Iracema se levanta da cama e bota as duas mãos na cintura em atitude ostensivamente desafiadora.
— Vai me mandar embora, é? E quem vai dar o cuzinho pro seu Jorge?
Juliana fica pasma, muda, verde, bege, estatela os olhos, crava as unhas nas palmas das mãos.
— Cccco... como é que é?
— O seu Jorge vive dizendo que a patroa não gosta de dar o rabicó para ele. Até me paga dobrado pra usar o meu.
Juliana sente a cabeça rodopiar. Está um tantinho assim dum desmaio. Escuta mas não quer ouvir.
— Toda madrugada ele entra no quarto pra me enrabar. Aliás, é tão pequitito. Pra mim quase não incomoda. Não sei por que a senhora faz conta daquele piauzinho.