É fácil não me curtir. Não curto, period.
Não, você não entendeu. Não é que não curta "algo". Não curto
intransitivo indireto inexplicativo. Nem tudo, entrementes. Por certo não o que
a maioria dos mamíferos racionais blablablablablá. Quem me conhece um tico
tende a atribuir esse meu mau comportamento a alguma deficiência, vai ver
faltam determinadas proteínas, talvez ácido úrico além do limite de tolerância
dum cabra macho. Nada disso, entremurmuro. Doente quem tá é a humanidade.
(Ofcoursemente meu terapeuta punha aquele dedão rotundo de caipira endinheirado
em riste na minha cara quando eu reclamava de dores que tais. Freud teria
revisto sua teoria se me conhecesse. Provavelmente confessaria com todas as
letras do alfabeto alemão o profundo pessimismo subjacente em tudo que
escreveu, refugado por psicanalistas que beliscaram sua obra em apostilas de
três páginas na facul, a descrença de Freud na natureza humana não permitiria
que esses sujeitos cobrassem de mil a duas mil pilas uma sessão de 45 minutos,
não à toa o pensamento freudiano seja tão contestado em terras setentrionais
onde a felicidade sob o consumismo desvairado, mais que opção, é obrigação e ao
inapto ao "sucesso" só reste a loucura e/ou o suicídio. Pela mesma
razão, americanos não vão com a cara de Dosteaux.)
Na rua riem de mim e não rujo. (Rings a bell, Mr. Underground Man?) Por isso isso iço repito pito ito, me decidi:
aposentado, vou morar numa jaula. Mas, ao contrário do que disse ontem, não
será num zoo. Relendo minha postagem da véspera hoje cedo tive um calafrio me
imaginando num zoo. Como Bernhard detesto zoos e exposição de animais
trancafiados para deleite baboso de sádicos assassinos e seus kids embonecados
de chóping igualmente sanguinários. Eles, os assassinos, vão atirar pipoca pra
cima de mim como sempre fazem. Qual o macaco de Bernhard, devolverei a pipoca.
Evitarei gestos obscenos. Esquecerei da infância e de tudo, inclusive do som da
minha própria voz. Não terei ao meu lado nenhum professor de teologia. Serei só
eu em minha jaula, alheio aos visitantes. E terei esquecido todas as palavras.