Estou só e não é só

Hoje, estranhamente, deparei cuma esclarecedora citação de Pessoa.
Em carta a João Gaspar Simões, Pessoa escreveu: “O estudo a meu respeito, que peca só por se basear, como verdadeiros, em dados que são falsos por eu, artisticamente, não saber senão mentir”.
Veja, talvez todos os poetas (os dignos do nome, claro) tenham algo em comum com Pessoa.
Será que a poesia, essa dimensão imensa e intangível que habita a alma dos poetas e se transmite entre cada um e cada outro deles, no fim é uma só?
Que você acha?
É sintomático, pois Pessoa e os grandes poetas e mesmo os pequenos provavelmente não dão muita importância à veracidade de seu mundo, seus sentimentos, suas declarações, seus versos.
Acima de tudo, não dão lhufas para a inverossimilhança em que vivem.
Outro dia alguém me disse que isso não importa; o que interessa é a honestidade dos meus sentimentos.
Fiquei, confesso, emocionado.
Foi assim num papo descontraído, desses papos que a gente leva sem grandes propósitos.
Na hora pensei, taí alguém que me entende.
Admito: me entender não é moleza.
Até hoje ninguém nunca did.
Nem se deu o trabalho de.
Todo mundo está ocupado demais entender o mundo, entender a economia, o mercado e a quitanda.
E sei que não devia mais me magoar (“magoar” soa dramático demais?), me chatear com essas coisas.
Lá vou eu com minha choradeira de novo.
Terá Pessoa sido um chorão?
Terá, sim.
Me reconforta um tico.
O colossal Fernando. E sua dor desmedida
Se me encontrasse com ele um dia chorava, Cara, não é mole viver no mundo dos pragmáticos de-bem-coa-vida.
Ao que ele desdenharia: “Há uma vaga mágoa em meu coração”.