Mil, trezentos e trinta e sete

Devorar-se não é para os saciados
Requer um apetite fantasioso que não está na glândula salivar
Veneno protéico que não está nas frutas, nos peixes, nas aves, na água ou no ar
Requer a sede incalculável dum oceano Atlântico com todos seus navios e todos seus náufragos e cada uma de suas ondas
A substância do planeta, a oleosidade dos poços de petróleo, a espuma dos copos de cerveja gelada e da urina quente que a terra absorve
Que aquele que se devora se disponha a tornar-se seu próprio predador
Requer a volúpia que do autocorpo reste só os autoossos e da autoboca só os autodentes (que também não hão de sobrar, se o autopredador for sincero)
Mas há algo que aquele que se devora não pode ter:
Memória