ón

Não falo da tua boca.
Mas podia. Podia falar por todo tempo em que se mantivesse muda.
Está tua boca abrochada para o mais fervoroso dos beijos?
Está essa tua boca preparada para reconsiderar?
Ou está apenas pronta para repetir o que eu e o mundo já escutamos?
Diga o que não quer ouvir e falarei.
O silêncio é minha espera.
Fomos homem e mulher um para o outro.
Até nos divorciamos sem nos casar.
Diga o que quer escutar e não direi.
Que estou apaixonado.
E você não dirá que é exagero.
Tantas incontáveis vezes me apaixonei por uma desconhecida.
Por uma mulher invisível. Por uma que não existia.
Uma mulher que imaginou que eu fosse apenas mais um macho cumprindo seu papel.
Morto antes de falar do plácido rosto de mulher próxima e distante, a fêmea acolhedora e hostil, pragmática e sonhadora.
Românticos e seus romances impossíveis.
Se encontram de repente na rua, se reconhecem.
Trocam um beijo.
Se mordem os lábios.
E se abandonam sem dizer nada.