Da série "Novos contos para crianças", VIII

Zezinho sonha com Leninha todas as noites. E, de dia, em seus devaneios diários, delira que está cochichando “Te amo” no ouvido da coleguinha de escola.
Zezinho senta no fundão da classe, covil escuro e obscuro dos relapsos e preguiçosos. Leninha ocupa a primeira carteira, pódio resplandecente e decente das estudiosas e queridinhas e belas.
E ladras dos coraçõezinhos de margarina sem sal de moleques nascidos para babar por suas inefáveis musas.
E Zezinho baba e baba e baba pela loirinha. Baba quando a imagina chegando em casa. E baba vendo-a mentalmente a sentar-se na mesinha do quarto e a abrir o caderno para fazer a lição do dia seguinte. E baba fantasiando Leninha almoçando, raspando o prato, fazendo à família um relato vivo e detalhado de como transcorreu seu dia na escola. E baba imaginando a menina comentando sobre suas colegas mais chegadas e seus penteados e seus adereços e suas peculiaridades. E baba quando Leninha se despe para entrar na banheira de pedras semipreciosas verdes, azuis e lilases. E baba quando Leninha, terminado o banho, começa a berrar “Mãe! Mãe! Mãe! Esqueci de pegar a toalha!”.
E então a porta se abre e aparece uma toalha pendurada num braço e Leninha sai da banheira e se enrola antes que Zezinho tenha tempo de conferir seus segredinhos anatômicos e quem traz a toalha não é a mãe, mas o pai, sem camisa, suado, provavelmente acabando de retornar de seu jogging diário e os olhos vorazes da imaginação de Zezinho vidram no peito cabeludo do homem e seus bíceps férreos e seus ombros bem-torneados e vão descendo por sua cintura rígida e a barriguinha apetitosamente tanqueada passando pelas ancas sólidas até as coxas roliças porém firmes, se detendo no grande, no másculo bojo bem entre as pernas...
E Zezinho vai afundando mais e mais em sua desvairada reverie, se imaginando já homem feito, vestido a caráter, olhos protegidos por grandes óculos, pilotando um teco-teco pelo céu do mais puro anil, desenhando em letronas imensas de fumaça entre as nuvens alvíssimas
“LENINHA TE AMO”...
“LENINHA TE AMO”...
“LENINHA TE AMO”...