Ah como queria ser sereno
Ao invés de olhar as hienas às gargalhadas
a subir, os coiotes aos uivos a descer, contemplar
Ao invés de dizer ao vizinho, vizinho, veja
que horror o trânsito! que escuras aquelas nuvens no céu! que cloaca se
desprende do bueiro!
Ao invés de escutar as provocações do
mundo, sonhar, sonhar sem cores nem traços, sem tremas ou sublinhas, sem heróis
nem figurantes
Queria ser sereno, me mudar para a rua
Aurora que não havia na minha infância
Tempos de incapaz de imaginar que hoje lamentaria
ser incapaz de imaginar
o que sou
E viver tão pausadamente, quase sem
viver
esperando e não esperar
devorando não antes de ter a presa entre
meus dentes
engolindo só quando vier a fome
e sereno for
não loucamente louco
não doentemente frívolo
nem displicentemente vingativo
ou covardemente doente
tocar teu corpo só
quando teu corpo tocar