Vocês sabem, intelecas têm nojo de fóruns
de leitores e portais de relacionamento, digo, intelecas par excellence, não espertalhões
que torcem os nazos e chafurdam fundo na merda digital enquanto tentam tirar
uma casquinha quando a gente olha pr’outro lado.
Vocês sabem, eu também.
Agora, onde é que o show da realidade está
acontecendo neste exato momento?
Bidu.
Não
tem como desdenhar. A
interconectividade é a Moby-Dick destas eras. We’re doomed.
Cá no meu modesto bloguinho ouso afirmar que
dificilmente veremos o aparecimento de outros melvilles (revisor, em minúscula
por favor). De que forma poderemos, digo, eles poderão identificar caras como Henry
David Thoreau que se meteu no meio do mato e construiu sua casa com as próprias
mãos para urdir Walden, livro de
pessoalidade quase absoluta como todas as grandes obras, extremismo individualista
hoje provavelmente impossível de ser tentado pela cambada mundial de conectados
de dedão em riste prontos para o próximo link?
Oh god, que será da raça após dezenas de
séculos escravizada pela tecnologia?
De que adianta perguntar? Não há mais
como retornar a Heiddeger, muito menos a Nietzsche. Aspirar à realização das
potencialidades humanas? Que troço significa esse raio?
Não consigo obrar dois parágrafos decentes
quando estou plugado. Jonathan Franzen uma vez se amarrou a uma cadeira para não
ter escapatória senão escrever. Certa feita instalei meu computador no alpendre
de casa, longe de todas as conexões da internet, e escrevi três semanas. Não que
o resultado tenha sido uma obra prima mas nunca produzi tanto. Franzen também não
foi muito longe, apesar de todo o hype dos comentaristas literários de seus país,
milhões. Como digo, temos de ter inseparável ao nosso lado um Otto Maria
Carpeaux que nos esclareça que O
apanhador de Salinger não é a brastemp que os propagandistas de Tio Sam, e
seus papagaios mundo afora, nos fizeram crer. Hélas, a guerra propagandística é
tão legítima quanto as demais.
Retornando à realidade, as pepitas mais
puras do grande veio digital talvez estejam nos fóruns do utube.
É no utube que se está processando a
maior alquimia de todos os tempos, a transformação da palavra em imagem,
servicinho sujo que o cinema e a tevê deixaram pela metade. Cara, eles
conseguiram. Faz algum tempo certas buscas que faço no Google me levam direto
para uma alexandria de vídeos. Parece que a molecada já está partindo direto
para o filme quando está a fim de explicar qualquer coisa à patota, não lhes
ocorre alinhavar três ou quatro termos em sucessão para revelar o que
lhes passa no cérebro. Estão perdendo a capacidade de escrever. E não veem razão
para. Se lixam. Quem sabe daqui uns tempos ser alfabetizado não tenha mais
importância.
Logo, logo a computação nos facultará
intervir no mundo por gestos e mumunhos. A realidade a um estalar de dedos terá
se tornado realidade.
Como costuma dizer o banqueiro do Zé
Dirceu, não vai aqui qualquer julgamento de valor. Comecei dizendo que a
realidade hoje está na internet e pretendo sustentar essa declaração pelo menos
enquanto estiver escrevendo esta postagem.
Quando consigo me municiar de paciência,
me delicio com o pessoal que participa dos fóruns do utube. Outro dia até salvei
uma citação. O sujeito dizia: “I
hate when people say stuff like ‘I'm 11 and I listen to the beatles’”.
É mesmo, o utube veio alimentar essa porção
imensa da humanidade que vive da nostalgia. David Foster Wallace disse, antes
de se enforcar na viga mestra de sua sala de visitas, que a indústria fonográfica
é que alimenta essa onda atual de nostálgicos. É mesmo. Até os consumidores do
sertanojo têm necessidades artístico-estéticas. Vivemos todos em busca de
epifanias.
Emoções à la carte. Quer sentir o que
neste momento, monsieur?
O legal é que tudo passou a ser especulação.
Nunca nenhum pensador pôde afirmar peremptório o que a realidade é ou deixa de
ser, agora infinitamente menos, sem que outro contestasse. Eles vão continuar a cagar suas declarações
bombásticas, claro. Esse mercado jamais terá fim. A grande manada muge por certezas.
Quem conseguir forjá-las reinará até o
subversivo seguinte.
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