Hey Doc, me desculpe pela mensagem anterior. E
por esta. E pelas vindouras. E pela falta de noção. E por existir. E por tudo.
Meio que ando meio desmotivado plenamente sem gana, sem garra, sem punch. Tô
acabando de chegar da PF, fui retirar meu passport. Chique, né? — desolé, ecos
maternais. Resolvi concorrer àquela vaga de astro de cinema animal em HW de que
lhe falei outro dia. Meio que ando carecido dumas mudanças de ares, sabe como
é, viajar sempre nos obriga a relativizar nossas pendengas com a vida, lançar
um olhar renovado às tralhas que juntamos ao longo da jornada, quem sabe atirar
algumas, ou todas, pela janela. Viajar, no meu caso, me aproxima um tico da
minha dimensão mais real, me ajuda a desembarcar das minhas naves imaginárias
em que VIAJO de manhã à noite, da noite à manhã e que sempre terminam um peso
maior do que posso suportar. Mais que tudo, viajar, digo, viajar para longe,
sofrer no lombo a atroz partida, ir ter com outra língua, outra cultura, se
deixar submergir — “afundar”, afundar é mais nosso, menos abstrato, também às
vezes tem essa sensação de estar num mundo que não te pertence, como se as
palavras e frases não estabelecessem correspondência com as pessoas e os
objetos “lá de fora”? — afundar num ambiente estranho e desafiador, recapitulando,
viajar, viajar pra bem longe, relativizar, nos livrar das dessas bujigangas que
acumulamos desde o jardim da infância, se entregar a outra língua e outra
cultura e afundar, afundar, afundar, tudo isso nos abre NOVAS perspectivas, sabe,
sim, sabe como é, e perspectivas novas é do que ando mais necessitado
ultimamente, sabe, digo, tem hora me dá essa sensação terrível de sufoco, um
sufoco letal, como se uma garra invisível — sem unhas mas com a força dum
alicate industrial — me estrangulasse, até as sensações físicas se, com perdão
do palavrão, transmudam, chego a sentir um fedor acre, sem exagero, do tinhoso,
brrrrrr, me dá calafrio, meus orelhões cabeludos se acendem num ímpeto quase
doloroso, os ouvidos poderosos trilam atentos ao flanar mudo duma borboleta, os
olhos não encontram repouso nem na escuridão, este olfato maldito com que a
natureza me presenteou fareja até uma gota de óleo debaixo dos 15 km do pré-sal.
Durma bem. Não sonhe comigo. Não sonhe simplesmente. Au revoir.
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