Tonietti VIII

Hey Doc, me desculpe pela mensagem anterior. E por esta. E pelas vindouras. E pela falta de noção. E por existir. E por tudo. Meio que ando meio desmotivado plenamente sem gana, sem garra, sem punch. Tô acabando de chegar da PF, fui retirar meu passport. Chique, né? — desolé, ecos maternais. Resolvi concorrer àquela vaga de astro de cinema animal em HW de que lhe falei outro dia. Meio que ando carecido dumas mudanças de ares, sabe como é, viajar sempre nos obriga a relativizar nossas pendengas com a vida, lançar um olhar renovado às tralhas que juntamos ao longo da jornada, quem sabe atirar algumas, ou todas, pela janela. Viajar, no meu caso, me aproxima um tico da minha dimensão mais real, me ajuda a desembarcar das minhas naves imaginárias em que VIAJO de manhã à noite, da noite à manhã e que sempre terminam um peso maior do que posso suportar. Mais que tudo, viajar, digo, viajar para longe, sofrer no lombo a atroz partida, ir ter com outra língua, outra cultura, se deixar submergir — “afundar”, afundar é mais nosso, menos abstrato, também às vezes tem essa sensação de estar num mundo que não te pertence, como se as palavras e frases não estabelecessem correspondência com as pessoas e os objetos “lá de fora”? — afundar num ambiente estranho e desafiador, recapitulando, viajar, viajar pra bem longe, relativizar, nos livrar das dessas bujigangas que acumulamos desde o jardim da infância, se entregar a outra língua e outra cultura e afundar, afundar, afundar, tudo isso nos abre NOVAS perspectivas, sabe, sim, sabe como é, e perspectivas novas é do que ando mais necessitado ultimamente, sabe, digo, tem hora me dá essa sensação terrível de sufoco, um sufoco letal, como se uma garra invisível — sem unhas mas com a força dum alicate industrial — me estrangulasse, até as sensações físicas se, com perdão do palavrão, transmudam, chego a sentir um fedor acre, sem exagero, do tinhoso, brrrrrr, me dá calafrio, meus orelhões cabeludos se acendem num ímpeto quase doloroso, os ouvidos poderosos trilam atentos ao flanar mudo duma borboleta, os olhos não encontram repouso nem na escuridão, este olfato maldito com que a natureza me presenteou fareja até uma gota de óleo debaixo dos 15 km do pré-sal. Durma bem. Não sonhe comigo. Não sonhe simplesmente. Au revoir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário