Puxa , fiquei de lhe escrever várias mensagens
hoje, não deu, me desculpe, misteres imperiosos se entrançaram qual teia sobre
meu dia, me retendo muito, muito longe do computador. Mas não pense que me
esqueci. Nem por um minuto. Até quando retornava agora há pouco a pé para casa,
ia olhando as moçoilas e raparigas zanzando pra cima e pra baixo (como mulher
gosta de zanzar, madre de dio) e, me desculpe mais uma vez (e tantas outras em
que haverei de cometer barbaridades), ia mentalmente comparando. Adivinhe com
quem. Bidu. E a ganhava todas, naturalmente. Sabe que às vezes dá até raiva? conhece
aquele célebre dístico do Camus, Albert, “Mulheres
excepcionalmente bonitas assombram menos no segundo dia”? Batatolina né? É
por isso que vivo dizendo que tem uns sujeitos que pairam milhas acima da massa
de tomate e que por isso mesmo merecem nossa atenção. Camus é um dos meus
xodós, obviamente. Estou há tempos procurando os diários dele, tenho só os três
primeiros — inclusive é onde está essa frase aí — mas não acho de jeito maneira.
Diários escritos pelos grandes são particularmente sedutores, pois é na
descrição dos detalhes do cotidiano que eles se mostram exatamente o que são.
Cartas, idem, só que nas epístolas sempre tem o outro, o destinatário, que
acaba interferindo na pureza da percepção do remetente para o bem e para o mal.
Ontem comecei a ler as cartas que Elizabeth Bishop enviou para seu conterrâneo
Robert Lowell quando morou no Brasil. Bishop viveu 16 longos anos em
Petrópolis, na mansão de Carlota, vulgo Lota, de quem era cacho. Lota era
amigona de ninguém menos que Carlos Lacerda, então governador da então
Guanabara. Às vezes a senhorita não acha estranha essa proximidade de artistas
e intelectuais com os poderosos? Sério? Ah, eu acho, sim. Inda mais quando se
trata de poeta. Não sei se concorda, mas poeta em geral é gente amarga,
associal, deslocada, que prefere ficar cismando no seu cantinho no mundo a
participar da grande celebração da vida. Pois é, mais ou menos como alguém que
conheço hehehe... Também genericamente falando, é por isso que o poeta acaba
poetando, com perdão do termo cafona. É mais ou menos uma sublimação — carinha,
em vez de viver, amar, brincar e gozar, não necessariamente nesta ordem, opta
por interiorizar aquilo que seria sua práxis para depois regurgitar a gororoba
em forma de verso. Bom, não é tão cru quanto faço soar aí, mas minha descrição
não passa muito longe da realidade, acho. Voltando à nossa gloriosa Bishop, o
mais saboroso nas cartas dela a Lowell — por sinal, igualmente poeta — são,
claro, suas impressões sobre, bidu, o Brasil e os brasileiros. Jajaja (me
desculpe, hoje dei pra rir em espanhol, até amanhã terá passado, seguro). Quem
melhor que alienígenas para nos ver como somos, não é mesmo? Bishop, sendo
americana arretada, não nega fogo, bien sûr. Vai passando uma esculhambação
federal nas nossas maravilhas nacionais. Só pra ficar na literatura, não sobra
ninguém em pé fora Machado, Drummond e Bandeira. Nas bebidas, a única que se
salva é nossa cerveja. Nos cigarros, o menos ruinzinho é o Luiz XV, que, lembro
muito bem, papai fumava, de dois a três maços diários que no fim o levaram para
o cemitério. A propósito pela enésima vez, por acaso fuma? Jajaja, não se
amofine com a pergunta, é apenas uma troça, como gostava de motejar nosso Machado
velho de guerra. Magina só nossa bela cum cigarrão na bocona obscenamente
cobiçável! Faz cooper, não faz? Não se diz mais cooper hoje em dia? Como é
então? Jogging? Obsoleto também? Tudo bem, deixa pra lá. Se tem uma coisa nesta
vida que nunca me passou pela cabeça é fazer exercício físico. Se um dia me vir
correndo numa rua, pode cair fora pelo lado contrário que tô fugindo da polícia
ou da ambulância dum manicômio. A propósito etc estava falando das moçoilas e
raparigas que vi nas ruas ao voltar agora para casa, que ia comparando com a
senhorita, que deu de goleada em cada uma das candidatas ao meu velho coração
cansado de emoções, e acabei me esquecendo de lhe contar que uma delas tinha o
rostinho especialmente atraente que me deu aquele friozinho na boca do estômago
que sempre me dá nessas circunstâncias e meu cupido interno já ia se preparando
para mirar a flecha no peitinho dela quando meus olhos, mais rápidos que meu
pensamento, fizeram aquele exame superficial básico e puft! constatei que a
pobrezinha era perfeitinha coisa e tal, menos num porém >>> estava na
cara, ou melhor, no joelho, que sofria de valgismo, que, como certamente sabe,
é aquela malformação em que as pernas se encostam e ficam com aparência de
tesoura. Que judiação, tão lindinha de rosto. É por esse tipo de crueldade que
viver me dá raiva e tenho gana de acabar com essa raça desenganada pelo xará lá
de cima. Pra que fazer essa brincadeira de mau-gosto com a garota, me diga? A
coitada parecia o pavão da fábula do Esopo, magnífica em cima, um desastre em baixo.
Bom, tudo bem, vim xingando por dentro pelo caminho, racionalizando um montão
de sentimento de revolta, até que me conformei. Então, nessas horas, digo, como
qualquer ser gaiato deste planeta >>> fazer o que, né? “É a vida...”,
como gostam de proferir os calhordas. Mas que se dane tudo e se danem todos, me
animava enquanto tropicava pela calçada. Chegando em casa, vou escrever à...
Agora tenho um antídoto. Agora tenho um bálsamo. Estou vacinado e incólume.
Posso tudo. Então eis-me aqui, super-herói a me exibir a enquanto as injunções
da sobrevivência, e do Facebook, permitirem.
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