A lua lembraria você, se sorrisse.
Você deixa a mesma
impressão
De algo belo mas
aniquilante.
Sylvia Plath
Fiquei
impotente há dois anos e meio. Começou naquela noite em que sonhei que era
eunuco.
Sílvia,
tentando me consolar, explicou as maravilhas operadas pelos modernos
medicamentos anti-impotência. Várias vezes jurou que não me deixaria. Naquela
época achei natural acreditar.
No
sonho era um eunuco inglês. Cantava A
day in the lie em voz de
falsete. A letra era mais ou menos assim:
Don’t know where
you’ve been all these nights
My ears’ve been
full with darkness
Don’t know where
I’m going to
Your tracks have
been leading me astray
What is it I've
been waiting for
Looking straight
at the horizon?
Hey listen to the
moaning sounds
From clouds
gathering in the skies
A
lie in the day
Acordei
no meio da madrugada todo molhado. Tinha ido dormir de bexiga cheia. É melhor
se mijar de bêbado do que de medo.
Levantei
da cama tomando cuidado para não acordar Sílvia, fui para a sala, fechei a
porta, pus uma mazurka de Chopin, enchi um copo de Balla 12 até a borda e
engoli. Apanhei meu bloco de anotações e registrei a balada com que sonhara e
esbocei umas ideias ainda frescas do sonho. Quando olhei pela janela era de
manhã.
Não
sei se já disse, Sílvia me deixou. Quando a vi de novo, teria abanado o rabo se
fosse um cachorro que reencontra o primeiro dono depois de anos sem saber direito se é lembrança de alguém bom ou mau, sem poder decidir se abana ou não o rabo.
Devo me alegrar ou temer? Foi ela que me salvou da minha tragédia ou foi ela a
causa da minha tragédia? Devo lamber suas mãos generosas ou morder suas mãos
infiéis? Meus tíbios instintos caninos não me servem de ajuda. Dejavu inédito,
me deixa sem referências. Entre meus medos está o que não conheço. Uma réstia
de otimismo tenta se impor. Precavido, abano.
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