Amorokê na vila - Capítulo 012

Momento presente, só com filtro.

lavaragai aagairalv vralaigaa aaaagrivl aiavagalr viaaragal alvaargai gavaiaalr iaragaval aarlagiav lvrgaaaia ragvialaa vaaaarlgi aailgvaar
Sorriso vertical.
Puxo o braço para coçar o nariz, agulhada no punho.
Nada. A.Ver. Com. Os. Abomináveis. Smiles.
Aperto no bíceps do braço direito. Aí não, please.
Me acariciam o pinto e apalpam.
Hummmmm. Zumbe uma voz.
Tralha tilintando.
Abro os olhos que não abrem.
Acorda. Comanda a voz.
Vou coçar o nariz, nova agulhada.
Fica quietinho.
A memória secou. Um alívio.
Maldito olfato, abre um buraco negro no meu cérebro, suga suor, éter, ofego, esparadrapo, impaciência, algodão, truculência.
O garrote no bíceps desaparece.
Abro os olhos manquitolas, minha garganta geme.
Uma carranca negra e balofa no meu campo de visão.
Se não parar de se mexer, vou te amarrar.
A memória vai emergindo num álbum de milhões de fotos duma foto, toda cada uma dum ângulo mortalmente entediante dum lixão.
A enfermeira negra abundante de tetas mastodônticas sai batendo os tamancos, não sem antes dar uma última apalpada no meu pinto.
O álbum se fecha em baques.
Gemidos.
Minha orelha está interditada por uma botinada marrom no meio do viaduto que me conecta a algum dia no jardim-da-infância.
Esterço um olho, uma fileira de leitos de pronto-socorro, moribunda algaravia.
Outra negra, jeitão de supervisora, cutuca a agulha no meu punho e vai.
Graças, o boquete ainda não foi desta vez.
A porta vaivém se abre, um sujeito com pinta de segurança entra, no crachá pregado na aba do bolso está escrito “administração”.
Fecho os olhos que não fecham, abro, o segurança está ao meu lado.
Mandaram te entregar isto.
Joga um objeto em cima da minha barriga e vai.
Tento pegar o objeto, agulhada no punho.
Lembro de usar o outro braço.
Uma caixa de bombons.
Um cartãozinho pendurado num durex, letrinha de marmanjo iletrado de Soninha.
Sara logo. Te amo.
Tomara que sejam de licor de rum.
São.
O sujeito no leito ao meu lado dispara lamentos agoniados.
A língua mais simples que existe.
Tem um sujeito todo de branco parado do outro lado da cama.
Abre a torneirinha do meu soro, espeta meu outro braço, anota numa prancheta e vai.
Sou uma abreviatura de gente. Inválido para armazenagem. Inapto para classificação.
Um calendário na parede dos fundos atrai meu olhar.
Quarta-feira.
A negra tetudo-ventruda passa, para, troca minha bolsa de soro, aperta a agulha no meu punho, cola uma etiqueta na minha prancheta, belisca meu pinto e vai.
Já tá na hora do recreio?
Deve ser o único lugar público do mundo sem uma tevê.
Durmo intermitentemente.
O sujeito todo de branco quer saber se sou alérgico a algum medicamento.
Digo que nem imagino e não tenho cor preferida.
Apalpo a caixa de bombons na minha barriga, alguém pelo menos sabe onde estou, não serei enterrado como indigente.
A porta vaivém se abre, entram vários sujeitos com diversas macas, os gemidos se amplificam, um motor operado a sangue entra em funcionamento.
Beeps disparam.
O buteco do Lacerda é mais organizado e tranquilo.
Semipalavras afloram à consciência formando o poema mais papudo, meigo, ameaçador, escorrido, patético, vendedor, epidêmico, litorâneo que já li.
Tá na hora do parêntese?
Meu coração acorda, o antigo relógio que na parede da nossa casa badala é de corda, padre Cirilo que era taradão por mamãe discorda com seu sorrisinho cínico, o relógio recorda, o padre levanta a batina.
Será que tem câmaras escondidas por aqui?


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