Amorokê na vila - Capítulo 021


Hoy, con la primavera, 
soñé que un fino cuerpo me seguía 
cual dócil sombra. Era 
mi cuerpo juvenil, el que subía 
de tres en tres peldaños la escalera.

Antonio Machado

Hoje é quarta-feira, dia mais chato que folhinha de parede com alpes suíços. A menina que atende no balcão entra no salão de sinuca, me faz um sinal com as sobrancelhas e vai para o banheiro dos homens.
Já vou avisando: posso trabalhar para mulher mas não com mulher.
Tudo bem. É homem.
Quanto cobro.
Depende do bicho. Se não for com a cara dele, pode sair até na manha.
Olha, vou te confidenciar, meu estado permanente de mim nunca me deixou perceber muitas coisas. Ponho o dedinho na veia. Bombeando. Lateja que não é mole. Nem do mundo, nem das outras pessoas com quem tive o breve mas intolerável desprazer de conviver por algumas razões que não vêm ao caso, nem de mim mesmo. Por isso aprendi poucas coisas na vida. Entre essas poucas está a caganeira. Quando o bicho pulsa querendo estourar desse jeito, a coisa tá braba. Não adianta bufar nem morder o lábio quase até sangrar buscando resignação.
Por isso é que sempre digo que quem pensa que é hereditário se engana. Nesse aspecto cultivo até um certo nível de soberba. Lembro direitinho.
Descobri a veia na pré-adolescência. Estava sentado no sofá da sala olhando o teto como fazia todos os dias durante seis, quatro horas, mais chateado que pardal trancado na gaiola c’uma jaguatirica, quando pus um dedo embaixo do queixo e senti uma bombinha. Quase tomei um susto. Será o fim? Mas o sobressalto só durou uns três segundos. Melhor assim. Explodir e terminar essa merda duma vez. Sonhando, comecei a alisar sob o queixo, sentido o tuntuntum. De vez em quando apertava bem em cima dela com a ponta do dedo e segurava alguns instantes. É agora! Agora que vou acabar.
Embora tenha a cuca embotada, cedo deduzi que minha putice acabaria me deixando maluco. Até aí nenhum problema, pensava inocente. Pelo contrário. Acreditava que a combinação de putice e loucura daria um gostoso e frutífero casamento de sentimentos, sensações, emoções e pensamentos autodestrutivos e improváveis que a partir da lua-de-mel tentariam conviver em conflitos cada vez mais assoberbantes, até me levar ao Eu Supremo. Será a glória, antegozava abestalhado, sempre cada vez mais empurecido por estar tendo um prazerzinho que fosse, mesmo que antecipado.
Anoto o nome do bicho no meu bloquinho amarelo de capa de acrílico. Enfio o bloquinho no bolso da frente das calças.
Vem, vamos dar uma caminhada, não gosto de conversar com mulher no banheiro.
Saímos para a rua, olho para o céu, procurando um meteoro.
Um dia, sei lá quando, tinha uns sete, quatro anos, acordei estranho. Tudo bem, até hoje acordo estranho todo dia — e tem dia que a estranheza vai crescendo, crescendo até me deixar nesse meu estado quando chega a noite —, mas de todos meus dias estranhos aquele foi mais estranho que os outros.
Nenhum meteoro, pra variar. Pagava pra ver um do tamanho da Lua acachapando esta cidade e todos os filhos-da-puta que vivem aqui e este país e todo este mundo nascido duma esporrada de deus no rabo duma libélula gigante sem asas.
Mas meus horizontes não continuaram execravelmente alvissareiros por muito tempo. Depois de alguns dias em autoindulgência nauseante, uma nova dedução começou a tomar forma no fundo desta alma que não haverá de reencarnar. A dedução logo virou preocupação: e se aquilo que eu estava prevendo fugisse do meu controle por qualquer motivo e terminasse por me condenar a uma cela imunda no juqueri, minha indômita verve domada por quilos de gardenal e ansiolíticos, balbuciando versos de pessoa e suando baba feito uma estalactite banguela pondo pus pela boca gosmenta?
Tô amolecendo, certo. É a idade. Por isso peço: deus, só mais uma gota.
Tiro o bloquinho, olho de novo o nome desenhado na minha letrinha de mulher no papel amarelo.
Queria ver a cara dos bundões.
Vamos atravessar. Não gosto de andar deste lado.
Dobramos a esquina, avançamos uns três quarteirões como quem não quer nada, paramos no ponto. Cruzo os braços, reteso os ombros, crispo os punhos, preparado. A menina só fica lá em pé do meu lado.
Esperamos.
Tomara que seja o Geraldo. Mas se for o Chiquinho, tudo bem. Não faço muita conta.
Olha, nem precisa perguntar, sei que é estranho fazer reunião no quatrocentos e nove. Então vou lhe explicar.
Primeiro, não sou lá de topar novidade. Prum cabra feito eu, circular cai feito uma luva, tu há de concordar. Me faz bem pro fígado rever dia após dia as mesmas caras nas mesmas ruas e apreciar os aposentados e os vagabundos tomando sol nas mesmas esquinas.
Segundo, dentro do circular se aplica o mesmo princípio. Já fiz amizade com quase todos os motoristas. E com muitos dos passageiros também. Eis outra vantagem. Olha, pra falar a verdade, tenho um medo de cara nova que não sei bem explicar. Será doença?
O auge da humanidade foi a época dos dinossauros, quando a gente vivia sendo esmagada por chuvas de planetas na primavera, tempestades de meteoritos no verão, garoas de cometas no outono.
Pra que eu possa concluir minha missão.
Estremeço. Será o fim do doce estado furibundo a que me acostumei desde a mais tenra idade? Então, inefavelmente terno comigo mesmo, abandono o projeto. Não poderia correr o risco de perder toda a suculenta purice que este nefasto espírito-de-porco-espinho vinha paciente e diuturno cozinhando, puro de esperar a hora em que Ela finalmente maturaria, transbordando sôfrega pelas minha orelhas, escorrendo lascivamente pelo chão do quarto, se espalhando pela sala e pela cozinha, se infiltrando pelos vãos das portas e janelas, extravasando para a rua, ganhando corpo e consistência e cor e brilho, fluindo pelas estradas, inundando as cidades, até que tudo ficasse envolto num mar de purice apodrecida em que germinariam novos seres empurecidos putrefatos.
A veia dá uma latejada, só uma, pedindo carícia. Calma, neném, calma que o dia vai ser comprido feito o novelo emaranhado da passamanaria das ruas que já trilhei.
Começou antes de eu abrir os olhos. Olha, o que acontece dentro de mim antes de eu abrir os olhos dava uma bíblia. Claro, já me passou pela cabeça frita a ideia de escrever um livro chamado purildos-wake. Era um terremoto n’alma. Embora venha todas as manhãs e eu tente me precaver, nunca estou suficientemente preparado.
Eu sei, essa merda de pseudopoesia de segunda só serve pra me deixar — adivinhão — puronildo da silva. (Sobretudo quando começo a imitar um enteado fremente asqueroso professorzinho de bosta lambe-rabo-de-francesa-menstruada, aí que não caibo em mim.)
Circular à vista.
Deixo ela dar o sinal. Ergue o bracinho bem horizontal, esticado, o indicador apontando o horizonte, como devem ser os sinais. Essa leva jeito.
Que pena, não é o Geraldo.
Eta ferro, motorista novo. Subimos, baixo a cabeça pra não olhar. É hoje.
Achamos um banco vazio, sentamos.
Fecho os olhos.
Cedo aprendi um macete com que contava afastar o perigo de acabar inapelavelmente de frente comigo mesmo numa vasta noite soterrada sob o silêncio.
Puralhaço. Purirífico. Purirívago. Purãozudo.
Aos oito ou onze anos matava aula pra passear no circular. E, tal como todas as grandes descobertas da humanidade, essa também se me ocorrera fortuitamente.
Era uma das várias excursões que aprendi a fazer ainda pequeno. No começo pegava o primeiro ônibus que passasse. Foi há uns sete anos ou onze dias. Meu intestino estava ficando preso por períodos cada vez mais prolongados. Não era recente, só que... só que nos últimos tempos a coisa tava calando mais fundo, se é que me entende. A maioria dos motoristas não deixava.
Me mandavam descer quando percebiam que eu tinha ido fazer excursão. Depois de alguns dias consegui descobrir um que não ligava. Ficamos amigos um pouco. O único amigo que já tive. Só podia ser por causa dessa porra de querer ser o tempo todo, claro. Isso e o hábito que eu vinha adquirindo havia alguns meses de engolir pimenta malagueta de manhã, à tarde e à noite pra que meu mundo ficasse um pouco mais do que já era.
É assim. Primeiro começam a aparecer umas lembranças indesejáveis. Não tenho uma que não seja, certo, mas aquele dia vi — tudo bem, minhas pernas ficaram meio moles — que não ia ser fácil. Você sabe, o maior estanca-cu que existe no mundo é a pimenta malagueta. Se tu tá com diarreia, manda ver. Tiro-e-queda, nas originais palavras da minha mãe, a purelda, que, graças, morreu quando eu nasci. Então como sei que ela dizia tiro-e-queda? Cátso, por que não haveria de dizer?
Outra excursão que fazia ainda nos tempos da escola era ir na casa da gorda tomar cerveja. Eu, Japa, Alemão. A gorda dava um copo de cerva pra cada um de nós toda vez que íamos lá deixar ela chupar nossa pica. Pena que as rolinhas são tão pititicas!, ela reclamava rindo enquanto batia punheta em nós três, um de cada vez, pois usava as duas mãos, uma trompeteando a rola, a outra sovando o saco e garroteando a base do pinto.
A, aquilo que era punheta. Comparando, as outras pareciam a camille-palha dando um bloujob na mesa do legista.
Umazinha chocha, outra como quem não quer nada. Eu só assistindo, mudo, numa de estoico. Japa e Alemão tagarelando um com o outro, um papo-furado sem fim feito comercial de desodorante, eu queria enfiar uma banana de dinamite em cada orelha e acender com uma tocha de acetileno, sem prestar atenção no que o outro diz, não me deixam também prestar atenção. Nessa época minhas prisões-de-ventre eram sobremaneira atrozes, embora no início tivessem sido um bom auxílio pra extinguir qualquer possibilidade de conforto que pudesse passar pela minha enorme pesada cabeça cheia de cancros — as prisões-de-ventre e outros subterfúgios que devagarinho fui aprendendo a usar contra mim mesmo, dos quais falarei alhures se tiver tempo —, bem, minhas prisões-de-ventre estavam se esticando cada vez mais.
A gorda era uma turca fedida. Turca e fedida no duro, aca de camela inchada do sêmen do harum-al-rachid. Pesava uns 147 quilos. Vivia implorando que lhe comêssemos a buceta. Eu virava a cara, enojado. Se comêssemos, dava mais um copo. Na próxima, tergiversávamos. De tanto ela encher o saco, um dia o babaquara do Alemão topou. Subiu encima da pantagruela e dá-lhe saracoteio. De repente o fardo de banha guinou o corpanzil, caindo por cima do sorongo e desatando a estrebuchar epiléptica. O aparvalhado começou a gritar me-acuda. Eu e o do Japa tentamos desmontar a baleia de sobre o pongó, sem êxito.
De oito ou dois dias no início, as prisões-de-ventre logo passaram a quatro semanas ou dez minutos. Se antes eu lograva diluir discreta e satisfatoriamente os efeitos da flatulência dando curtos e dissimulados passeios no quintal antes de me recolher ou, quando não era possível me isolar de outras pessoas a distância prudente, apelando a truques como fingir limpar um pigarro ou, dependendo do volume que sentia acumular no abdômen, ter logo um acesso de tosse, assim que tinham início os inexoráveis peidinhos — e você não pode imaginar quão difícil é tossir e exalar puns sincronizadamente, agora meu ventre produzia mais gás metano que mina boliviana, que liberava para a atmosfera feito um ônibus diesel da linha largo-paissandu-vila-sônia. Sou o que sou, não nego, mas impolido não. Ainda mais quando se trata de singelas manifestações das nossas insondáveis entranhas. Bem, o troço começou a durar nove meses, cinco anos, sete segundos.
Já viu buceta de turca obesa? Nem queira.
Japa trepou nas costas da búfala e começou a cavalgar, gritando eia-eia-eia! Alemão tava inteirinho roxo, mais um pouco já era. Enfadado, decidi ir embora, quando me ocorreu que a Conceição, mãe do Alemão, provavelmente deixaria de me dar o rabo se ele morresse sem uma explicação plausível. Eu vinha comendo a coroa fazia uns três dias ou cinco semanas, desde o dia do meu décimo-sétimo aniversário. Foi a primeira mulher casada que tracei. Depois dela todas minhas transas tinham de ser com dona corneando o marido. Conceiçãozinha era especial. Cabelinho castanho curto, franjinha no meio da testa, tetinhas salientes espevitadas cônicas prontas pra explorar o espaço celeste, biquinhos de sensibilidade instantânea, era só me ver saltavam louquinhos pedindo me-chupa! Mas o mecanismo supremo era a boquinha. Abocanhava minha rola e não largava enquanto eu não enchesse ela de porra, que ela não deixava escapar um pingo com linguão de sapa. Tem vitamina, a coroinha ria, engolindo. Eu parava em frente a porta dela e berrava Alemão! Alemão! Ele tá na escola, Conceição berrava lá de dentro. Mas entra pra tomar um guaraná. Entrava. E saía pouco antes d’Alemão voltar da escola.
Lembrei dum filme que meu irmão tinha comentado. Mesmo não vendo a mínima grança em cinema, fui no quintal, peguei um rodo, fui na geladeira, besuntei o cabo do rodo com margarina, voltei pro quarto e fiz sinal pro Japa pascacito abrir a bunda da capivara. Me afastei um metro, mirei e arremeti. O cabo entrou que foi uma seda. A leitoa ergueu a cabeça e os braços, berrando, gozei! gozei!
Se quer saber, não há maior martírio. Embora fique bonito, certo, os pensamentos começam a dançar ainda mais confusos do que já são, você perde qualquer agilidade que tenha, os movimentos se deixam suplantar por uma lerdeza asfixiante, não dá nem mais vontade de falar. Minha barriga começou a expandir, olhar, expandir, escutar, expandir, cheirar.
Quando me toquei já parecia não um homem mas um genuíno caroço ambulante. Quase comecei a mudar de mim. Se não resolver, pensava, logo vou fazer quatro anos sem cagar feito um filho-duma-alpaca e vou ficar mais chato que sonhar com coceira. Quatro anos não cagando sem parar. Suspendi a malagueta, sem êxito. Parei de tomar guaraná com canudinho. Nada.
Os pares de lembranças indesejáveis viram trios. Logo quádruplas. Eu só olhando, tímido geométrico como sempre fui. Quando resolvo sair do estoicismo é tarde. Estão dançando quadrilha à minha volta. Tagarelando, batendo palmas, tagarelando, socando os pés, tagarelando.
Sabe o que é o melhor de tudo na minha vida?
É este meu estado permanente de empurado.
Mas às vezes vacilo. Vem a vontade de dizer chega. Quem já teve vontade de dizer chega sabe. Também não se explica.
Certo dia, já adulto me deu uma fina saudade sem mais nem menos e voltei na casa da turcona. Levei a peixeira, por via das dúvidas. Não por causa duma possível reação dela. Mas minha. Naquele tempo eu andava taciturno e quando ando taciturno começo a querer ficar imprevisível. Desci no ponto e cheguei direitinho. Eu mesmo vivo me espantando com essa minha memória geográfica mecânica. Quando se trata de endereço, então é infalível. Lembro mais que o proust criado sob doses cavalares de biotônico-fontoura.
Ninguém me deve comida, buceta, cobertor, sapato, casa, automóvel, relógio, dentes. Ninguém me deve porra nenhuma. Tá ouvindo? Porra nenhuma. Por isso sou muito mais o que sou.
Pena que seja só na geografia. O resto, esqueço tudo. Exagero não. Esqueci como era meu pai, meus irmãos. Esses, lembro que os tinha, mas não quantos.
Pronto.
Chegamos.
Descemos. Não olho de novo pro motorista, nem de esguelha. Vai ser duro me acostumar.
Senhor, vos suplico: só mais uma gotinha.
Os cachorros, esqueci todos. As estações do ano. As flores. Os sabões em pó. Os tipos de comida. Qual presidente se matou cum tiro. A função do estômago. Se Hitler ganhou a guerra. Pra que usar roupa. Quando andei de esputinique a última vez. Mas consigo fazer um exercício que ninguém consegue — esquecer o dia em que comemoravam os meus anos. É só querer, pronto, tá esquecido. Dura algumas horas. Se você perguntar o dia dos meus anos logo depois do exercício, digo que não lembro. Ninguém acredita, claro. Respondem — compreensivelmente, creio — que é truque. Mas não é.
Não é. Muito Mais.
Começa o tremor. Incomodozinho chato, faço de conta que não sinto.
Enquanto voltamos os três quarteirões, antes de entrarmos, me achegar ao balcão, o dono servir um pingado a um freguês cretino, eu fazer um tique com a cabeça e ele responder com outro, depois de atender o cretino do freguês e vir pro meu lado, eu pedir um pingado e ele servir e dizer que é por conta da casa, a menina se enfiar atrás do balcão, passar pelo dono e sumir por uma porta nos fundos, vou falando assim meio a esmo.
Depois de muitos, muitos anos, voltei lá.
Cheguei, fiquei um tempão parado diante do cortiço, olhando. Não tinha mudado porra nenhuma. Sem portão como naquele tempo, gritaria embriagada de querer um tiro de calmante na medula, sotaques de cada rincão do meu alheio nordeste, cheiros mais vários que a escala infinita do jardim da via láctea, fios d’água multicor borbulhante rala e turva descendo inexoráveis paralelos pelo quintal de terra batida para desaguar nalgum buraco negro fantasmagórico, tudo camuflado pelo tropel de varais embarrigados dando uma banana à lei da gravidade.
Vou até a penúltima porta. A porta está aberta. Bato palmas. Sim, sou o que sou. Menos intrujão.
Viro de novo. Fico olhando. Olhando, não estudando. Nunca gostei de estudar.
Uma menina d’uns doze anos enfia a cara pela cortina de plástico.
A gorda está, pergunto.
Aliso o cabo da peixeira.
Ela faz que não.
Vá chamar sua mãe.
Meio metro de lâmina de ferro mole, mais afiada que a língua do oscar-wilde depois de levar corno de estivador.
Que é, a mãe aparece já querendo saber. Cabelão escorrido ensebado multicor espanta-olhos roçando no ombro. Tetões escorridos dentro da blusa de pano. Que fizeram com teus biquinhos, santa-maria? Cearense, pergunto.
Ce sabe, aço não pega fio. Cabo de madrepérola ornado com pedrinhas de rubi e esmeralda. Bom-gosto não é o meu forte, certo.
Não erro uma. Pode pôr aí pernambucano, cearense, piauiense, maranhense, sergipano, baiano, potiguar, tudo enfileirado de banda e me vedar os olhos. Basta um grunhido. Acerto na pimba. Aposto. Menos caixa de cerveja, que não bebo nada com gás.
A gorda ainda mora aqui, pergunto. Não sinhô. A boquinha elástica miraculosa virou murcha e informe e escalavrada. A anti-ereção final.
Mudou, pergunto. Morreu. Faz tempo. Três, onze, cinco meses. De quê. De cabo de rodo. Uma sangreira que só vendo.
Sou o que sou e também jeca, que hei de fazer wladimir-meu-véio. Comprimo a mão cerrada em volta do cabo espremendo com tudo que posso mas não a ponto de permitir que meu rosto expresse que estou me esforçando. Sinto rubizinhos e esmeraldinhas entrando na pele. Depois que passa, meu maior barato é ficar olhando as marcas das pedrinhas na palma da mão.
Tô ficando velho, tendência a esmorecer. Não é só força de expressão. A Tendência-A-Esmorecer me puxa pela perna. Você se achava o gostosão, dono do autocontrole, de repente a capacidade de empurecer falha, navalha, farfalha pífio feito um relâmpago de 40 velas. 


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